Começou na noite desta sexta-feira, 23 de agosto, a XVIII Plenária Nacional Extraordinária da Fenajufe, no Carlton Hotel, em Brasília. A Plenária, que termina no dia 25 de agosto, foi uma deliberação do 8º Congrejufe e teve 220 participantes. Na abertura foi realizado um debate sobre conjuntura, cujo objetivo foi balizar as discussões sobre o plano de lutas, tendo em vista as recentes manifestações que perpassaram o país.
Na abertura, os coordenadores gerais da Fenajufe Adilson Rodrigues, Mara Weber e Ramiro López, além de Cledo Vieira, representando o Sindjus-DF, sindicato local, ressaltaram a importância dos debates vindouros e disseram esperar que o “evento cumpra o que o congresso não conseguiu”, ou seja, elaborar um plano de lutas da categoria. “Que saiamos daqui com domingo com todas as discussões feitas da melhor forma possível, que esse seja um compromisso que cada um aqui assuma”, pediu Rodrigues.
Na mesa de conjuntura, quatro debatedores trouxeram informações sobre o cenário internacional e nacional, político e econômico e sobre a situação da categoria nisso tudo. Celso Luiz de Sá (coordenador do Sindicato dos Técnicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e ex-coordenador da Fasubra), Rodrigo Dantas (professor de Filosofia Política na UnB e doutor em Filosofia pela UFRJ), José Loguércio (aposentado do TRT da 4ª Região e mestre e doutor em Ciência Política) e João Evangelista Mendes de Sousa (oficial de justiça aposentado do TRT da 15ª Região e suplente na coordenação da Fenajufe) apontaram a crise no capitalismo e no neoliberalismo, como o governo dito “de esquerda” não é tão de esquerda assim e o poder da mídia na manutenção do status quo. Em comum, todos criticaram a falta da participação do Poder Judiciário na mudança de paradigmas e a falta de credibilidade nas instituições representativas dos trabalhadores.
A noite ainda contou com diversas intervenções e perguntas para os palestrantes antes do jantar. Para o sábado, a programação prevê como primeira atividade a leitura e aprovação do regimento interno da Plenária e, logo após, discussões sobre o Plano de Lutas.
Celso Luiz de Sá definiu o Poder Judiciário como “um poder conservador do status quo e responsável por reproduzir o estado capitalista no Estado moderno” e apontou a dificuldade de boa parte da categoria em lutar contra o sistema por serem, eles mesmos, membros da classe média – logo, beneficiários do sistema como está. No entanto, o palestrante também disse que, exatamente por serem servidores do Judiciário, essas pessoas são importantes, pois estão dentro do Judiciário e podem operar a mudança. Luiz de Sá ainda lançou um alerta: “não se iludam com Joaquim Barbosa [presidente do Supremo Tribunal Federal (STF); ele é um conservador e deseja manter o Judiciário como está”.
As manifestações de junho deste ano e as reviravoltas da economia brasileira foram o ponto de partida de Rodrigo Dantas, o segundo a falar aos participantes da Plenária da Fenajufe. Apresentando problemas surgidos a partir da crise do capitalismo, o palestrante explicou como o Brasil hoje está no mesmo nível dos países que sofreram com a crise de 2008. Apesar de enxergar um descrédito geral das instituições representativas dos trabalhadores, ele acredita que a categoria tem a oportunidade de fazer a maior mobilização de massa do país. “É preciso organizar a luta dos trabalhadores de forma unificada, em escala nacional, global. Construir um grande movimento e uma pauta de reivindicações dos trabalhadores que altere a correlação de forças no país”, considerou.
Já José Loguércio, servidor aposentado do TRT da 4ª Região, começou sua fala questionando as diferenças entre esta e a última plenária no quesito conjuntura e concluiu que o plano de fundo permanece o mesmo: uma grande crise do capital, que ele acredita ser o prenúncio do fim do neoliberalismo. Para Loguércio, há um problema de soberania das nações, com tentativas de subjugarem umas às outras – haja vista o que aconteceu (e acontece) no Iraque, na Síria, na Líbia e no Egito. Ele disse que é uma “ilusão” acreditar que o país “um dia já foi governado pela esquerda”. Para ele, “além do Executivo, Legislativo e Judiciário, os poderes do Estado hoje são as igrejas, a mídia, os bancos e as forças armadas”. Segundo José Loguércio, a resposta para o que a população foi às ruas pedir em junho é “um Estado maior e mais indutor, mais soberania, mais democracia e mais distribuição de renda; mas, para isso, são necessárias profundas reformas no Brasil”.
O último debatedor foi o oficial de justiça aposentado do TRT da 15ª Região João Evangelista Mendes de Sousa, que trouxe uma abordagem diferente de seus antecessores: abordou estritamente a situação do servidor do Judiciário Federal dentro desse contexto. De forma ampla, Evangelista criticou a fragmentação da categoria, que, desta forma, é facilmente cooptada por partidos políticos cujos propósitos nem sempre visam o bem estar dos trabalhadores. Ainda falando dos partidos, o aposentado relembrou a origem dos principais partidos ditos de esquerda e no que eles se transformaram hoje, como sua atuação estaria distante de suas propostas de anos atrás. Sempre com foco no Judiciário, o palestrante criticou as “disputas partidárias que tiram o foco dos sindicatos da luta do trabalhador” e disse que “é preciso repensar o modelo sindical atual”.
Texto: Janaína Rochido Eduardo Wendhausen Ramos