Por Janice Miranda
Na maior demonstração de força política desde a guerra, dezenas de milhares de muçulmanos xiitas iraquianos marcharam ontem em passeata por Bagdá, entoando slogans que exigiam eleições livres para formar um novo governo.
Cerca de 100 mil pessoas percorreram Bagdá até a Universidade de Al-Mustansiriyah, gritando “Eleições sim, ocupação não!”.
Os xiitas, que são estimados em 15 a 16 milhões numa população iraquiana que totaliza 25 milhões, temem que os EUA e seus aliados locais tentarão roubar-lhes o poder, ao apontar os membros de uma nova assembléia e governo que os EUA planejam instalar em 1º de julho.
A manifestação era claramente dirigida a Kofi Annan, o secretário-geral da ONU, visando persuadi-lo a não endossar os planos estadunidenses de eleições indiretas. Annan esteve ontem em Nova York com Paul Bremer, o chefe da missão americana no Iraque, e uma delegação do Conselho de Governo escolhido pelos EUA.
A ONU parece muito cautelosa para voltar ao Iraque, depois que um homem-bomba matou 31 pessoas e feriu 120 – na maioria trabalhadores iraquianos – na entrada do quartel-general dos EUA em Bagdá, no domingo.
Muitos dos manifestantes de ontem carregavam retratos do grande aiatolá Ali Al-Sistani, o mais influente dos clérigos xiitas. Este rejeitou energicamente o plano norte-americano de reuniões por província para escolher uma assembléia, dentro de um acordo assinado em 15 de novembro. Foi ele que convocou a manifestação.
Amar Abdul Hassan, um estudante presente na passeata, disse “Os americanos querem escolher nossos líderes por nós. Nós queremos escolhê-los em eleições.”
Será difícil para Bremer ignorar protestos como o de ontem exigindo eleições democráticas.
Os EUA e a Grã-Bretanha justificaram a guerra no ano passado dizendo que Saddam Hussein possuía armas de extermínio em massa. O fracasso em achá-las desmoralizou-as largamente como justificativa da guerra. Isto tornou a derrubada de Saddam e a introdução da democracia no Iraque mais importantes como justificativa do conflito.
Será embaraçoso para os EUA encaminhar eleições indiretas denunciadas como não-democráticas pelo aiatolá Sistani e a maior das comunidades iraquianas.
Fonte: Diário Vermelho com informações do Jornal Britânico Independent