Venezuela: primeiras análises confirmam vitória; oposição cai em descrédito

As primeiras análises no resultado do referendo na Venezuela indicam o que todo mundo já sabia: não houve fraude no plebiscito nacional realizado no último domingo e que deu a vitória ao presidente Hugo Chávez por 59,06% dos votos contra os 40,94% para a oposição. Após a revisão de cerca de 15% do total previsto, às 16h, hora local (17h de Brasília), a diretora do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena, informou que “não encontramos uma única cédula na qual exista alguma irregularidade”.

A Venezuela começou ontem a auditoria tão solicitada pela oposição nos resultados do referendo ganho pelo presidente Hugo Chávez. Já prevendo que o resultado não será a seu favor, a oposição se afastou da revisão promovida pelo Centro Carter e a Organização dos Estados Americanos (OEA) e garantiu que não reconhecerá seus resultados.

A Coordenadoria Democrática (CD), da oposição, afirma agora que o processo de auditoria – que ela pediu – pretende “legitimar uma fraude”. Lucena acrescentou que o processo vai se acelerar nas próximas horas e que, se for necessário, outras equipes de trabalho serão chamadas para concluir “o mais rápido possível” a auditoria por amostragem dos 150 centros de votação. O resultado final deve ser anunciado em, no máximo, um dia.

A principal representante do Centro Carter na Venezuela, Jennifer McCoy, comentou que participam observadores da OEA e do Centro Carter, além de outros grupos internacionais convocados pelo CNE e testemunhas do governo. “O que estamos procurando é ver se existe correlação comparando as cédulas, urnas e os mapas de votação”, explicou Jennifer McCoy. O brasileiro Edgardo Reis Castro, representante da OEA, comentou que “independentemente do que se possa receber de denúncias ou comentários sobre irregularidades, a perícia em curso é definitiva para dar ao povo venezuelano uma total transparência sobre os resultados da consulta”.

Descrédito

O ministro de Comunicação e Informação, Jesse Chacón, afirma que os líderes da coalizão opositora Coordenadora Democrática “estão obcecados”. Chacón disse que é de ordem patológica a obstinação da Coordenadora em negar resultados que foram aprovados pela Organização dos Estados Americanos (OEA), pelo Centro Carter dos EUA e outros 2 mil observadores e personalidades de todo o mundo. “Foi a votação mais observada, com mais garantias de transparência, realizada na Venezuela, e possivelmente no mundo”, disse Chacón aos jornalistas.

A vitória de Chávez na consulta popular do dia 15 foi reconhecida por governos como os dos Estados Unidos, Rússia, China, a maioria dos governos da América Latina e Europa e, em geral, por toda a comunidade internacional.

A oposição está visivelmente desesperada. Ontem, fez algumas tentativas de acusação de fraude que demonstraram isso. Uma chegou a ser até ridícula, lembrando os filmes de 007 na época da Guerra Fria. Primeiro, teria sido usado um software foi alterado em 25% das urnas eletrônicas, o que teria facilitado a vitória de Chávez.

Outro argumento curioso foi de que o resultado foi fraudulento “porque dava para se notar no rosto das pessoas que estavam nas filas que elas iam votar contra Chávez”. Mas o melhor, foi o de que o governo utilizou um satélite russo para alterar os programas eletrônicos das máquinas de votação e mudar, por meio de sinais enviados da Terra e retransmitidos pelo satélite, a votação em algumas das máquinas.

Estados Unidos

O governo venezuelano declarou ontem que Washington terá que aceitar – mesmo que seja com “má vontade” – a vitória do presidente Hugo Chávez no referendo. Esta foi a resposta do ministro de Comunicação e Informação, Jesse Chacón, ao anúncio da Casa Branca de que esperará pelos resultados de uma nova e última auditoria dos resultados do referendo para emitir um comunicado a respeito. “Primeiro (os EUA) reconhecem, depois dizem que vão esperar até que a auditoria termine”, declarou Chacón aos jornalistas na sede da vice-presidência.

O governo do presidente dos EUA, George W. Bush anunciou na quarta-feira sua decisão de adiar o parecer oficial e definitivo acerca do referendo revogatório venezuelano até conhecer o resultado da auditoria que começou ontem. Washington havia anunciado sua intenção de publicar na terça-feira uma declaração com a posição oficial em relação à consulta através do porta-voz do Departamento de Estado, Adam Ereli. Porém, como a oposição venezuelana bateu pé e usou o artifício da suposta “fraude” nas urnas eletrônicas para ganhar tempo com a recontagem, mesmo com todo o apoio internacional que Chávez recebeu, o governo norte-americano apoiou sua cria, a oposição.

Chacón manifestou não ter dúvidas de que “não restará outra saída aos EUA que reconhecer a vitória do presidente Chávez nas urnas quando a OEA e o Centro Carter – observadores do processo de referendo – disserem que a auditoria foi perfeita”. “Talvez reconheçam de má vontade”, acrescentou o ministro.

O ministro destacou que seu governo espera que depois da ratificação de Chávez no cargo as “relações com os EUA pelo menos voltem ao nível que tiveram com o presidente Bill Clinton, quando as diferenças eram discutidas racionalmente e solucionadas.” Segundo ele, “as coisas caminhavam da melhor maneira”. “Eu espero que esse seja o cenário depois desta vitória”, declarou Chacón, ao reiterar que a Venezuela está interessada em manter “relações baseadas no respeito mútuo” com todos os países do mundo, incluindo os EUA.

Desde a chegada de Chávez ao governo, em fevereiro de 1999, os atritos entre Caracas e Washington foram quase permanentes.

Fonte: Diário Vermelho