O salário mínimo de R$ 300, que passará a valer em 1º de maio, representará um ganho real de 8,8% no bolso no trabalhador, considerando-se o Índice Nacional de Preços ao Consumidor e uma inflação estimada de 0,4% para abril. Na última década, o aumento real acumulado foi de cerca de 30% – 3% ao ano, em média. Apesar da recomposição salarial bem acima da média, para valer o mesmo de 1940, quando foi criado, o mínimo deveria ser de R$ 901,78 reais, segundo o relatório Salário Mínimo, uma questão econômica e de Política, divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos (Dieese).
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio de 2003 (PNAD/IBGE), 22 milhões de pessoas – um terço dos trabalhadores ocupados de todo o país – ganham até um salário mínimo. O Dieese estima que em março deste ano seria necessário um mínimo de R$ 1.447,49 para o sustento de uma família de quatro pessoas.
“Mantendo-se este ritmo de ganho real, seriam necessários nove anos para dobrar o poder de compra do salário mínimo”, estima o economista José Maurício Soares, do Dieese. Em 1957, o salário mínimo atingiu o maior valor médio anual da história: R$ 1.106,05 a preços de março de 2005 – o equivalente, na época, a cerca de 1.000 passagens de ônibus.
Naquele período, o trabalhador gastava um terço do salário com a cesta básica. Hoje, a cesta (R$ 175, 87 em São Paulo, em março) consome 68% do salário mínimo. O economista, no entanto, evitou calcular a proporção em relação ao novo mínimo antes da divulgação dos índices de inflação de abril e maio.
A metodologia que garantia o poder de compra nos anos 50 era simples: o salário, além de regionalizado, estava atrelado ao custo da cesta básica. Os gastos com alimentação não podiam ultrapassar 50% dos rendimentos do trabalhador. A fórmula foi abandonada a partir da década de 60 e, desde então, não houve um índice padrão para reajuste.
Ainda assim, o estudo do Dieese mostra que em 2004 houve certa recuperação do poder de compra. O mínimo equivalia a 30 quilos de carne, 100 quilos de feijão, 146 quilos de arroz, 54 quilos de pão ou 190 litros de leite – bem menos que nos anos 50, mas superior aos últimos anos. Em 2003, por exemplo, um salário mínimo comprava 29 quilos de carne, 78 quilos de feijão, 134 quilos de arroz, 48 quilos de pão ou 186 litros de leite. Há 10 anos, quando o mínimo saltou de RS$ 70 para RS$ 100, valia o mesmo que 21 quilos de a carne, 93 quilos de feijão e 156 quilos de arroz, 47 quilos de pão e 155 litros de leite.
O economista José Maurício Soares disse acreditar que com o novo salário “os trabalhadores vão quitar algumas dívidas e comprar alguma coisa a mais”. E lembrou que enquanto o PIB (Produto Interno Bruto) per capita cresceu cinco vezes de 1940 a 2004, o salário mínimo foi reduzido a um terço de seu valor inicial.
Fonte: Agência Brasil (Mylena Fiori)