Por Marcela Cornelli
A Embrapa afirma que inexistem pesquisas conclusivas sobre os riscos para a saúde dos consumidores de alimentos geneticamente modificados. Mas estudos europeus e americanos apontam problemas não apenas em função da mutação genética das plantas, mas por causa dos agrotóxicos usados no cultivo.
Nas discussões em torno do plantio de organismos geneticamente modificados em geral, e da soja transgênica da Monsanto em especial, um dos pontos mais polêmicos é se existem de fato ameaças à segurança alimentar e ao meio ambiente. No Brasil (que, teórica e legalmente, foi um país livre de transgênicos até o dia 25 de setembro), as pesquisas neste sentido ainda estão engatinhando.
Em nota oficial, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária afirma que “a Embrapa está consciente de que praticamente inexistem pesquisas conclusivas sobre os riscos para a saúde dos consumidores que venham a ingerir alimentos geneticamente modificados, bem como de que não há ainda no país pesquisas conclusivas sobre os riscos decorrentes da liberação de OGMs no meio ambiente, o que deve ser estudado caso a caso”. Assim, o que hoje sustenta a argumentação tanto dos defensores quanto dos oponentes aos transgênicos no país são, majoritariamente, experiências estrangeiras.
Apesar do grande poder de fogo das multinacionais que disputam o mercado internacional de sementes – e que dispõem de um volume razoável de recursos para propagandear as vantagens e a segurança de seus produtos transgênicos -, há uma série de estudos desenvolvidos na Europa e nos Estados Unidos que apontam a ocorrência de problemas ambientais e para a saúde humana, não apenas em função da mutação genética das plantas, mas também por causa dos agrotóxicos utilizados no seu cultivo.
Na produção da soja transgênica, o produtor usa apenas um tipo de agrotóxico, o glifosato, para combater as ervas daninhas da lavoura (a soja transgênica é resistente a este veneno, ou seja, quando aplicado na plantação apenas as pragas são eliminadas). No entanto, com o passar do tempo, a resistência do mato ao agrotóxico aumenta e, conseqüentemente, aumenta também o volume de veneno aplicado na lavoura para fazer o controle das daninhas, como comprova um estudo realizado no Rio Grande do Sul pelo pesquisador Rubens Nodari, da Universidade Federal de Santa Catarina.
O glifosato passa a se concentrar também nos grãos de soja, afirma o engenheiro agrônomo Sebastião Pinheiro, especialista em contaminação química. “Um quilo de soja transgênica contém cerca de 30 mg de glifosato. No estômago, o agrotóxico se transforma em nitrosamina de glifosato, substância altamente carcinogênica”.
Sobre outros perigos à saúde humana, Pinheiro diz que a ingestão de soja transgênica pode causar inibição do crescimento em crianças. “A soja transgênica tem um alto teor de lectina, substância que aglutina os glóbulos vermelhos do sangue e diminui a sua capacidade de absorção de oxigênio. O que nos faz pensar é que na soja transgênica são 49 trilhões de células com DNA modificado. Quem sabe o que estas mutações genéticas podem causar no nosso organismo?”, questiona o pesquisador.
Vários estudos feitos nos EUA apontaram o surgimento de alergias em pessoas que consumiram alimentos transgênicos. Supermercados europeus tiraram produtos que contêm ingredientes geneticamente modificados de suas prateleiras. A Dinamarca baniu o glifosato por conta da alta contaminação dos lençóis freáticos. Lavouras gaúchas de soja transgênica, estudadas pelo pesquisador Nodari, apresentaram deficiências na estrutura das plantas e diminuição de produtividade. Há ainda o perigo de que a transgenia de uma plantação contamine lavouras vizinhas “limpas”. São questões como estas que, além da suposta redução nos custos da produção, também devem ser avaliadas com critério antes da liberação dos transgênicos no país.
Fonte: Agência Carta Maior