Servidores do Fórum Trabalhista de Jundiaí lançaram um manifesto em solidariedade aos amigos, familiares e colegas mais próximos dos três servidores da Justiça Trabalhista que faleceram nas últimas semanas, sendo dois deles nos próprios locais de trabalho.
O manifesto também repudia declarações que banalizem ou menosprezem os sentimentos de quem atenta contra a própria vida e conclama os servidores a se unirem contra o assédio causado por estratégias de gestão. O magistrado trabalhista e professor de Direito da USP Jorge Luiz Souto Maior é um dos signatários do texto.
A seguir, a íntegra do manifesto:
Rompendo o silêncio: solidariedade e repúdio
Reunidos nesta data, nós, servidoras e servidores do Fórum Trabalhista de Jundiaí-SP, refletindo sobre os graves acontecimentos envolvendo os colegas AMANDA PRISCILA SANTOS COSTA, ERICA YAMAMOTO e EDÉLCIO RIBEIRO, resolvemos nos manifestar nos termos que seguem.
Inicialmente, levando-se em consideração o imensurável sofrimento dos familiares, amigos e colegas de trabalho mais próximos, efeito este inafastável diante da situação irreversível que representa a perda da vida, apresentamos os nossos mais sinceros sentimentos, consignando que as notícias nos atingiram de forma estarrecedora, causando-nos enorme tristeza.
Nossa manifestação, no entanto, não poderia se resumir a externar nossos sentimentos pela morte dos colegas vitimados, afinal, a situação ocorreu em contexto no qual estamos inseridos. Assim como Amanda, Erica e Edélcio, também somos servidores do Poder Judiciário da União e, por isso, além de demonstrar nossa angústia e expressar nossa solidariedade, extensiva a todos os demais colegas de Judiciário que se sentiram atingidos pelos fatos já mencionados, acreditamos que seja relevante e necessário reafirmar nossa crença, extraída da raiz dos Direitos Fundamentais, de que a vida, a saúde e a dignidade dos seres humanos não podem ser relegados a segundo plano e não podem ser colocados em patamar de inferioridade com relação às instituições, por mais importantes que estas sejam no âmbito da organização do Estado, até porque sem o ser humano não existiriam quaisquer instituições.
É relevante, ainda, que fique muito claro nosso repúdio a toda e qualquer espécie de declaração, de quem quer que seja, que banalize ou menospreze o sentimento extremo daqueles que, em uma condição de absoluto desespero, atentam contra a própria vida, sendo certo que minimizações dessa natureza acabam por afrontar a condição humana de todos os demais servidores. Aliás, não nos parece despropositada a “escolha” do local em que algumas pessoas resolvem cometer suicídio. O que se revela despropositada e absurda é a pretensão de desconsiderar a tragédia de forma autoritária, como se os contratempos ocasionados pelo ato fossem mais relevantes que a própria vida que se foi.
Por oportuno, desejamos expressar que compreendemos abomináveis a instituição de estratégias de gestão e a adoção de metas de trabalho que já consideram, em seu contexto, dados estatísticos que preveem e admitem percentuais mínimos aceitáveis de acometimento de doenças e de suicídios no ambiente de trabalho.
Por fim, conclamamos a todos os servidores a se unirem contra essa escalada supressiva da condição humana, considerando que a forma primária de uma reação eficaz é não silenciar frente ao assédio proporcionado pelas estratégias de gestão e, principalmente, perante os trágicos efeitos já produzidos.
Rompendo o silêncio, como forma de nos fazermos presentes, de nos tornarmos vistos e de nos sentirmos vivos e efetivamente relevantes, era o que nos cumpria dizer!
Jundiaí, 17 de outubro de 2014, 6ª f.
– Adriana Junghans de Godoy Silveira
– Andrea Vicente de Paula
– Andresa Cristina Cavallini
– Antonio Carlos Bessa
– Ari Cotarelli
– Cíntia Adriane Fernandes Becatti
– Cíntia Costa de Paula Barreto
– Cláudia Regina Pacheco do Nascimento
– Cleide Fonseca de Moura
– Cristiano de Mello
– Daniela da Silva Lima
– Edimara Bianchin
– Edmilson Aparecido Gatti
– Eydie Cristina de Souza
– Fabrício Faria Botelho
– Gislaine Ferraro Soler Jerônimo
– João Paulo Machado
– Jorge Luiz Souto Maior
– José Alberto Prado de Godoy
– Juceli Aparecida Alves de Oliveira
– Kátia Vicioli da Silva
– Kelli Regina Martins Becatti
– Larissa Caroline Pereira
– Lincoln Dias dos Santos
– Luciano Marcelo Christ
– Luíz Francisco Del Duca Canfield
– Maria Adelaide Spinacé Ramos
– Marina Fernandes de Paula Moura
– Mario Souza da Silva
– Marisa Cristina Viotti Mazzuco
– Maristela Cerri
– Maristela Rodrigues
– Michele Monique Gabriel Santana
– Mitsuko Aparecida Shigeeda
– Mônica Fagundes Bigotti Crivelaro
– Mônica Pomilio
– Olívia Soprani Turcato
– Osvaldo Ribeiro Franco Neto
– Pollyanna Soares dos Santos
– Rafael Geraldo Gaioto Soares
– Rodrigo Fontenelle Bezerril Coutinho
– Sandra Cristina Dias
– Talita Inácio dos Santos Silva
– Valdecir Zaramello de Mesquita