Por Elaine Tavares – jornalista
A greve dos trabalhadores das Universidades Federais chegou a um impasse. Passados 37 dias do início do movimento, o governo de Dilma Roussef encaminhou um ultimato aos trabalhadores: só com a saída da greve se dispõe a abrir uma mesa para discutir a pauta.
Ao que parece a postura autoritária do governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, pode se tornar uma regra geral entre os governantes do país. No estado catarinense, os professores estaduais estão em greve há quase 60 dias, esperando que o governo simplesmente cumpra a lei que determina o pagamento do Piso Nacional. Colombo não cumpre a lei e tampouco se dispôs a negociar, exigindo que os professores saíssem da greve para apresentar qualquer proposta. Os professores não saíram e ele, autoritariamente, enviou um projeto de lei ao legislativo, sem considerar as propostas dos trabalhadores e cortando seus salários.
A presidenta Dilma Roussef age da mesma forma. Depois de literalmente enrolar os trabalhadores na famosa “Mesa de Negociação Permanente”, realizando reunião para organizar a próxima reunião, sem qualquer diálogo real, não restou aos trabalhadores qualquer alternativa, senão entrar em greve. E por quê? Porque desde o ano de 2004, quando o então governo Lula encaminhou um projeto de lei ao Congresso que tratava sobre cargos e salários do executivo, muitas foram as lutas que tiveram de ser travadas para arrumar o “monstro” criado. A lei melhorou o salário dos trabalhadores, mas ainda assim, os da educação seguem sendo os “primos pobres” do executivo.
Para se ter uma idéia o piso da categoria é menor que o dos professores estaduais, que também estão em greve em Santa Catarina. Eles lutam por um piso de 1.800 reais enquanto que o dos Técnicos-Administrativos está em 1.030 reais. Não bastasse isso, a lei ocasionou uma série de problemas como a manutenção de vencimentos complementares, equivocados posicionamentos dos aposentados e erros na racionalização dos cargos, entre outros. Tudo isso está na pauta de greve, ou seja, questões que viraram problema em 2004 e que até hoje não tiveram solução por parte desse governo, em que pese a Federação dos Sindicatos Trabalhadores das Universidades Brasileiras estivesse “negociando” até maio deste ano. Fala-se negociação entre aspas porque se entende que negociar é um ouvir o outro e todos cederem em algum ponto. Até agora o governo não cedeu em nada e o que os trabalhadores conseguiram avançar foi única e exclusivamente na luta.
A greve nas universidades acontece num período difícil. Já está no fim o semestre letivo, os estudantes estão indo embora e este sempre é um tempo de refluxo na instituição. Tudo caminha lentamente. Mas, aos trabalhadores não restou opção. Com uma proposta de cargos e salários bastante defasada eles ainda enfrentam a possibilidade de o governo congelar em 10 anos os salários, a considerar um projeto de lei enviado ao congresso dentro da lógica de “ajuste” criada pelo governo para “economizar” 50 bilhões de dólares do orçamento.
O que parece incompreensível aos trabalhadores é que no mesmo momento em que a presidenta se nega a negociar um aumento salarial e melhorias no plano de cargos de quem sustenta o serviço público deste país, coloca à disposição do empresário Abílio Diniz, via BNDES, mais de 4 bilhões de reais para que ele possa realizar um projeto de expansão dos seus negócios privados. Além disso, o governo se compromete a injetar dinheiro nas obras que estão planejadas para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016, drenando verba para a iniciativa privada enquanto arrocha o trabalhador.
Esta semana, depois de o governo tentar impor uma medida autoritária de não conversar com os trabalhadores em greve, as universidades de todo o país (49 estão em greve) realizaram assembléias para definir se seguiam a greve ou a suspendiam, para atender aos desejos do governo. Por maioria decidiram seguir com o movimento, sem aceitar a imposição. O governo promete endurecer e não conversar com os grevistas ameaçando inclusive não incluir os trabalhadores das universidades no Orçamento de 2012.
É uma queda de braço num momento muito difícil. Mas, os trabalhadores em greve estão firmes na certeza de que a luta forte e unificada pode fazer o governo ceder. “Não é possível que haja tanta disparidade entre os trabalhadores públicos. Por que um técnico na universidade tem de ganhar 1.030 reais enquanto um motorista no Judiciário ganha sete mil? Tem de haver mais justiça nos salários. Somos todos funcionários públicos!”, expressa um trabalhador que decidiu integrar o movimento paredista.
E, assim, enquanto os técnicos-administrativos das universidades resistem o governo segue tranqüilo. Greve nas universidades parece significar menos despesas para ele. Não há gasto com luz, com a comida dos estudantes. Então, não é sem razão que os movimentos dos trabalhadores tenham de durar dois ou três meses até se fazer ouvir. O governo leva os trabalhadores ao limite do desespero e só restam as ações mais contundentes como ocupações e fechamentos forçados. Porque no capitalismo é assim. Os patrões só conseguem ouvir os gritos dos trabalhadores quando estes soam alto e em uníssono.
Pode-se argumentar que no caso dos trabalhadores públicos não há patrão, já que quem paga o salário são os impostos do povo. Mas, nos governos dos estados capitalistas dependentes já se comprovou: a grande batalha entre capital e trabalho atinge fortemente os trabalhadores públicos porque os governos insistem em entregar os recursos que deveriam ir para a saúde, educação e outros serviços público, diretamente para os empresários. Assim, o povo é espoliado duas vezes: no dinheiro dos impostos que deveria reverter em melhorias nos serviços público e que vai para os empresários, e como trabalhador, uma vez que acabam sendo preteridos na questão salarial.
Agora, nos dias que se seguem, período de pouco movimento nas universidades por conta das férias escolares, os trabalhadores haverão de encontrar formas de confrontar o poder. Pois sabem bem, a história mostra, que só a luta faz avançar os direitos.