Por Marcela Cornelli
A diminuição da renda dos brasileiros, uma tendência verificada nos últimos seis anos em todo país, atingiu em 2003 um grupo da sociedade em especial. Ao longo do ano, o rendimento das mulheres recuou 6,5%, fechando a R$ 4,30 em média por hora trabalhada. No caso dos homens, também houve recuo, mas menor. O rendimento deles caiu 6,1%, para R$ 5,47 em média por hora.
A pesquisa, divulgada pela Fundação Seade na última quinta-feira (4/3), trouxe outro dado preocupante para quem se dedica às questões de gênero. Pela segunda vez nos últimos 15 anos (a primeira ocorreu em 2000), foi interrompido o processo de aproximação da renda feminina à masculina. Em 2003, o rendimento das mulheres correspondeu a 78,6% do dos homens.
Segundo a economista Paula Montagner, da Fundação Seade, o maior recuo na renda feminina ocorreu porque os tipos de emprego ocupados pelas mulheres foram mais afetados, do ponto de vista da renda, pela crise econômica do ano passado. No caso dos serviços domésticos e do comércio a remuneração das trabalhadoras encolheu 8,0% e 7,4% respectivamente. Na construção civil, por exemplo, onde os homens são maioria, o rendimento diminuiu um pouco menos (6,2%).
“As mulheres ainda mantêm mais vínculos precários de trabalho do que os homens. Isso dificulta negociações salariais, por exemplo, via sindicato, deixando-as mais vulneráveis”, explica Paula.
Se a situação das mulheres em geral tornou-se mais difícil, ainda pior ficou para as mulheres negras. O rendimento delas caiu 7,2%, para R$ 2,71 em média por hora. Esse valor equivale a apenas 49% do recebido pelos homens em 2003 (R$ 5,47). Para a economista do Dieese, os números apontam “evidente discriminação racial, pois há negros e não-negros desempenhando a mesma função recebendo salários diferentes”.
Assim como a dos homens, a taxa de desemprego entre as mulheres aumentou. Foi de 22,2%, em 2002, para 23,1%, em 2003. Isso significa que há 1,03 milhão de mulheres sem emprego entre os 1,9 milhão de desempregados na Região Metropolitana de São Paulo. No caso dos homens, o nível de desemprego, que é relativamente menor, subiu de 16,4% para 17,2%.
Em 2003, permaneceu ainda a tendência de aumento da participação feminina no mercado de trabalho. Conforme os dados, essa taxa passou de 54,4%, em 2002, para 55,1%, em 2003, o maior patamar da série da pesquisa, iniciada em 1985. Entre os homens, o nível de participação recuou de 73,4% para 73,0% no mesmo período.
Fonte: Agência Carta Maior