Por Marcela Cornelli
A trajetória do livre comércio no México, onde a metade de seus 100 milhões de habitantes vive na pobreza e uma terça parte na miséria, teve início em 1992 com a assinatura de um acordo deste tipo com o Chile. O último acordo comercial subscrito pelo México foi com o Uruguai, no último sábado, por ocasião da XIII Cúpula Ibero-americana, celebrada na cidade boliviana de Santa Cruz de la Sierra.
Já são 11 os tratados mexicanos bilaterais ou multilaterais em vigor e 14 em negociação, quatro acordos de complementação econômica e 20 para a promoção e proteção recíproca de investimentos. O principal pacto assinado pelo México é o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), com o Canadá e os Estados Unidos.
Embora o país tenha se tornado um dos dez maiores exportadores do mundo, o prometido desenvolvimento através da abertura comercial não se realizou, tanto por inoperância interna como pela falácia dos discursos favoráveis aos TLC. O México computou no ano passado um comércio global de mais de 320 bilhões de dólares, uma cifra 200% superior à registrada em 1992, porém a pobreza é crescente nesta última década e setores como o campesinato se empauperizaram.
Nos últimos 10 anos, as zonas rurais, onde estão 75% da pobreza extrema do país, perderam mais de 10 milhões de hectares de cultivos e cinco milhões de camponeses, na maioria jovens, que emigraram para zonas urbanas mexicanas ou para os Estados Unidos, segundo um estudo da Universidade Nacional Autônoma do México.
Em termos de comércio, o México elevou o volume de suas atividades de maneira exponencial entre 1992 e 2002, porém, no que diz respeito ao produto interno bruto por habitante, o crescimento médio nessa década foi de apenas 0,96%.
O impacto positivo do livre comércio no México se reduz a apenas algumas poucas empresas, em geral filiais estrangeiras. Segundo especialistas, o caso mexicano demonstra que o livre comércio gera algumas “ilhas de sucesso”, porém não espalha os benefícios para o conjunto da economia. Do universo de empresas existentes no México, apenas 750 são responsáveis por mais de 70% das exportações do país e, destas, a maioria são de propriedade estrangeira, ou seja, as receitas com as exportações não permanecem no México para se converterem em investimentos para o país.
Mobilizações contra a Alca no México e América do Sul
Com tal histórico, se questiona no México a validade para o país da assinatura de um tratado ainda mais abrangente, a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Por isso os movimentos sociais mexicanos estão organizando a “Jornada Operária, Camponesa e Popular em defesa da Soberania Nacional e contra o Neoliberalismo” que pretende concentrar oito caravanas provenientes de vários pontos do país em uma mega marcha para a Praça da Constituição da Cidade do México no próximo 27 de novembro. Além do protesto se dirigir contra as privatizações do petróleo e da energia elétrica colocada em andamento pelo governo mexicano, o movimento “demanda uma política econômica que privilegie o mercado interno e a soberania alimentar, baseada no resgate do campo” em vez da Alca.
Na América do Sul, a mais recente demonstração de temor com relação à Alca vem da alta hierarquia da Igreja Católica na região. Representada pelos bispos do Brasil, Bolívia, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai, a Igreja sul-americana afirma que “continuará manifestando sua ponderada desconfiança para com a criação da Alca”. Causa preocupação às conferências episcopais desses países a furtividade com que se vem conduzindo o projeto e a marginalização dos movimentos sociais enquanto se tomam decisões importantes para o futuro destes povos.
Já amanhã, dia 21, no Uruguai, a Campanha Anti-Alca do país convoca todos os cidadãos para uma concentração que vai ocorrer em frente ao Ministério das Relações Exteriores, sob o lema “Contra a ALCA e pelo ANCAP”, que será encerrada por grupos musicais locais como La Teja Pride, Cof Cof, Graffolitas e outros.
Fonte: ADITAL
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