Por Imprensa
Representantes de movimentos sociais, sindicalistas e ambientalistas realizaram ontem (16/2) um protesto diante do Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo, comemorando a entrada em vigor do Tratado de Quioto e protestando porque o governo norte-americano não aderiu ao acordo. Eles entregaram uma carta escrita em inglês e endereçada ao presidente George W. Bush, expressando sua insatisfação com a não adesão.
O cônsul americano, Patrick Duddy, recebeu a mensagem, mas procurou justificar a posição da Casa Branca. “A administração Bush busca os mesmos objetivos das entidades ambientais, mas por caminhos diferentes”, disse ele, completando que considera mais corretos os caminhos de seu país.
A manifestação ocorreu diante da nova sede do consulado, que mudou dos Jardins para o bairro mais distante da Chácara Santo Antonio, numa área de 5,6 hectares, por razões de segurança. Foi o primeiro protesto depois da mudança, que se concluiu no fim do mês passado.
O protesto em São Paulo coincidiu com manifestações semelhantes em dezenas de países. O presidente da CUT, Luiz Marinho, e o líder do MST, João Pedro Stédile, participaram do protesto. Diante do consulado, num carro de som simulando a Arca de Noé, manifestantes da ONG Greenpeace arremessaram uma bóia com a inscrição “Quioto Protocol”, que um ator, representando Bush, se recusava a pegar.
Para Stédile, as mudanças climáticas conseqüentes da emissão de gases poluentes já estão atingindo o mundo, especialmente os países mais pobres. “Se não nos mexermos agora para evitar impactos mais graves que podem ocorrer nas próximas décadas, não haverá uma arca grande o bastante para salvar da enxurrada de vítimas”, disse ele.
O protesto foi realizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Greenpeace, Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (FBMOS), Instituto Vitae Civilis, Coordenação dos Movimentos Sociais, Grupo de Trabalho da Amazônia (GTA), Núcleo Amigos da terra Brasil e União Nacional dos Estudantes (UNE). Além do protesto em São Paulo, outras atividades foram realizadas em Manaus, Porto Alegre e Brasília.
140 países já aderiram
O protocolo de Quioto nasceu em uma reunião realizada em 1997 naquela cidade japonesa, como desdobramento da Convenção Sobre as Mudanças Climáticas, assinada durante a Eco-92, reunião realizada no Rio de Janeiro. A meta é diminuir as emissões dos gases responsáveis pelo efeito estufa, que vem elevando a temperatura do planeta.
Segundo Rubens Born, diretor do Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz Vitae Civilis, as entidades lamentam a ausência dos Estados Unidos no protocolo, porque o país é responsável por 25% da emissão dos gases. “Queremos lembrar que tanto os países ricos quanto aqueles em desenvolvimento têm que começar a proteger o clima da Terra, implementando programas de energia renovável, diminuindo o desmatamento. Ou seja, há responsabilidades comuns”.
Para os ambientalistas o Protocolo de Quioto é o primeiro e modesto passo com o objetivo de reverter os prejuízos climáticos, mas é a única medida existente e já conseguiu reunir 140 nações. A meta global para a redução dos gases é de 5%, embora os cientistas, segundo Born, recomendem corte de 60%. “Essa meta estabelecida já está comprometida pela recusa dos Estados Unidos em aderir ao protocolo. Isto é imoral e injusto com os outros países que terão que adaptar sua economia e sistema de transporte, entre outros. Os Estados Unidos se beneficiarão sem fazer nada”, afirmou Born.
“Quanto mais os Estados Unidos se atrasarem, mais o mundo continuará se aquecendo. Em algum momento, quando os outros países também tiverem metas obrigatórias de redução de gases do efeito estufa, vão ter ônus maior, porque os Estados Unidos não aderiram agora”, disse Born. O ambientalista acredita que tanto a pressão externa quanto a da sociedade americana podem influenciar na adesão do país ao protocolo, já que a recusa é específica do governo Bush. “Governos de cidades, estados, uma série de empresas e organizações não-governamentais dos Estados Unidos querem que o país entre. Nós achamos que dependerá de uma maior mobilização doméstica naquele país”, afirmou.
Fonte: Portal Vermelho