Um protesto contra a visita do chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), o espanhol Rodrigo de Rato, terminou em pancadaria ontem em Buenos Aires. A polícia reprimiu com gás lacrimogêneo e balas de borracha os militantes do movimento Quebrancho, que apedrejaram o prédio do Ministério da Economia. Os protestos começaram pela manhã e aumentaram por volta do meio-dia em frente à Casa Rosada, sede do governo argentino. Além de protestar contra a missão do FMI, os manifestantes também pediam a libertação do líder piquetero Raúl Castells, preso na semana passada pela Justiça argentina. Castells é acusado de extorsão, por ter liderado a ocupação de um supermercado na província do Chaco, exigindo alimentos. Cerca de 100 pessoas foram detidas durante o confronto desta terça.
Algumas horas antes da chegada do chefe do FMI, 20 desempregados ocuparam a entrada do hotel onde ele ficou hospedado. Eles protestaram contra a presença de Rodrigo de Rato no país e contra as pressões do Fundo para o pagamento da dívida. Os protestos não pararam por aí. Durante a madrugada, manifestantes explodiram uma bomba na porta do BBVA Banco Francês. O explosivo, que quebrou os vidros da fachada do banco, mas não deixou feridos, lançou panfletos que diziam “Fora da Argentina, Rato. Não ao pagamento da dívida externa”. Outra bomba foi colocada na frente de uma lanchonete McDonald’s, mas foi encontrada pela antes que fosse detonada.
Argentina quer rolar pagamento da dívida
Após o conflito do meio-dia, o presidente Néstor Kirchner reuniu-se com Rodrigo de Rato na Casa Rosada. Cercado por um forte aparato de segurança, Rato iniciou sua primeira missão oficial em Buenos Aires com uma conversa com o ministro da Economia, Roberto Lavagna. A Argentina reivindica a suspensão da terceira revisão das metas acordadas com o FMI e a renegociação dos vencimentos que o país tem junto ao Fundo ao longo deste ano. Esses pedidos implicam, entre outras coisas, o pedido de rolagem para 2005 do pagamento de cerca de 1 bilhão de dólares. A Argentina tem de pagar cerca de 2,4 bilhões de dólares ao FMI até o final de 2004. O presidente Kirchner sustenta que o país pode pagar 1,4 bilhão de dólares com reservas do Banco Central, mas quer renegociar os prazos para o pagamento do restante.
Ao defender o pedido de seu governo, o ministro Roberto Lavagna lembrou que o país vem fazendo um grande esforço para realizar um superávit primário compatível com as metas acertadas junto ao Fundo. Em julho, esse superávit já era de 13 bilhões de pesos, superando a meta fixada com o FMI para todo o ano (10,8 bilhões de pesos). Também apontou o esforço fiscal realizado pelas províncias argentinas, que, no primeiro semestre deste ano, alcançaram um superávit de 5 bilhões de pesos, triplicando a meta prevista junto ao FMI. Por fim, citou, os índices de crescimento da economia argentina no primeiro trimestre, que registraram uma expansão de 8,4% do PIB, resultado esse liderado pelo desempenho da indústria (12,2%). Nas reuniões com Lavagna e Kirchner, Rato prometeu estudar a reivindicação do governo argentino, sem garantir, porém, a aceitação do pedido.
Fonte: Agência Carta Maior