No último fim de semana, a imprensa venezuelana deu grande destaque à declaração do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Luis Dulci, de que o presidente Lula gostaria de participar da sexta edição do Fórum Social Mundial (FSM) em Caracas, que acontece de 24 a 29 deste mês. “O presidente foi convidado e quer comparecer. Está sendo estudada a questão de agenda, mas ele tem vontade de comparecer”, afirmou Dulci à Radiobrás na última sexta (6).
Quem convidou, e como e quando Lula participaria do Fórum Social, no entanto, é uma informação que nem os organizadores do evento em Caracas, nem as assessorias de Dulci e do Planalto parecem ter. A questão é importante porque a Carta de Princípios do Fórum veta a participação de governos e políticos em seus eventos, a não ser que tenham sido convidados para alguma atividade por uma organização participante do FSM, ou que sejam os representantes do município, do estado e do país anfitrião.
Segundo o sociólogo Edgardo Lander, membro do Comitê Organizador venezuelano, haveria a informação de que a rede internacional de entidades camponesas Via Campesina e o MST fariam o convite para uma atividade no dia 25, para a qual já haviam convidado o presidente venezuelano Hugo Chávez.
O MST nega. Segundo a Secretaria de Relações Internacionais do movimento, no dia 19 de dezembro houve uma reunião do Conselho Hemisférico do FSM em Caracas, e a Rede de Movimentos Sociais do Fórum, na pessoa do representante do MST, informou que deve organizar um debate público com Chávez no dia 25 e uma conversa, esta fechada, no dia 28, para discutir a relação movimentos/governo. Este último encontro seria “aberto para outros presidentes que eventualmente estivessem na Venezuela”, mas o MST e a Via Campesina não estariam pensando em convidar o presidente Lula para qualquer atividade.
Por outro lado, o evento do dia 25, mencionado por Lander como o possível momento de participação de Lula no FSM, é, segundo a Rede de Movimentos Sociais, uma grande conferência de Hugo Chávez sobre o tema “Luta anti-imperialista”. Uma possível participação do presidente brasileiro, se este tivesse interesse, teria que ser avaliado pela Rede e pela Via Campesina, organizadora do evento, ponderam seus coordenadores.
Fórum presidencial?
Para assessores mais próximos ao presidente, no entanto, a indefinição do convite a Lula no FSM neste momento é secundária, porque “muitas organizações internacionais gostariam de contar com a sua presença”.
Mais importante do que esta discussão seria um encontro fechado entre Chávez, Lula e o presidente argentino Nestor Kirchner neste próximo dia 19 em Brasília, quando, paralelamente à reunião tripartite sobre projetos energéticos para a América Latina, os três podem discutir um possível evento de chefes de Estado no marco do FSM (que já conta com os Fóruns Social de Autoridades Locais e Parlamentar).
Para a organização do FSM, um encontro presidencial paralelo e ligado ao Fórum poderia ser uma nova hipótese em função das mudanças do eixo ideológico na América Latina, algo impensável em 2001, quando do surgimento do Fórum Social Mundial.
Segundo Edgardo Lander, apenas Lula, entre os presidentes larino-americanos do campo progressista, deve comparecer ao Fórum. Houve um convite de Hugo Chávez ao recém-eleito presidente boliviano, Evo Morales, para que sua primeira viagem internacional seja à Venezuela logo após a sua posse, neste próximo dia 22, mas a possibilidade de que venha a Caracas no período do Fórum é remota, avalia Lander.
A ponte que cai
Uma fratura em um dos pilares de um viaduto na estrada que liga o aeroporto internacional de Caracas à capital venezuelana deve causar grandes transtornos aos participantes do FSM que chegam por via aérea. Houveram até rumores de que o evento poderia ser cancelado, mas em nota divulgada nesta segunda (9) os organizadores do Fórum garantem que o governo está providenciando vias alternativas.
Segundo a imprensa local, nos últimos dias as pessoas têm seguido até o inicio do viaduto, feito a travessia a pé e tomado táxi ou ônibus do outro lado. Na nota do FSM, as alternativas apontadas são a reabilitação da estrada velha Caracas – La Guairá entre as 5 h e 21 h para veículos de passageiros e uma rota alternativa via El Junquito e Carayaca. Também podem ser habilitados outros aeroportos, distantes de uma a duas horas de Caracas.
“Pode ser que o translado entre o aeroporto e Caracas demore até quatro horas, mas chegar todo mundo chega. Em relação às autoridades, como o presidente Lula, os problemas no viaduto não interferirão em nada já que haverá transporte de helicóptero”, garante Lander. Segundo ele, os organizadores do FSM devem negociar com as autoridades locais ônibus especiais e tabelamento do preço dos táxis para o transporte dos participantes do Fórum.
Fonte: Agência Carta Maior (Verena Glass)