O sentido do trabalho

Caros Colegas servidores,

O SINTRAJUSC tem, entre as suas lutas históricas, a firme defesa da saúde dos servidores; contra o abuso de poder que penalisa os trabalhadores em nome da exploração da força de trabalho e da produtividade a qualquer custo. É sempre saudável quando recebemos artigos de colegas da luta sindical para possível divulgação em nossa rede de contatos junto à categoria, pois nos ajuda a refletir, buscar soluções e a lutar com dedicação redobrada contra as injustas doenças impostas pelo aumento absurdo da carga de trabalho. Trabalho excessivo que enlouquece. É o caso da contribuição do Sinergia e do IELA-UFSC que enviamos aqui. Dois artigos que se cruzam; dois pensamentos plurais que denunciam as mesmas injustiças contra os servidores. Boa leitura!   

Fonte: SINTRAJUSC

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O Sentido do trabalho    

Dino Gilioli, diretor do Sindicato dos Eletricitários de Florianópolis – Sinergia

22.02.2011- Os defensores do sistema capitalista prometeram que com os avanços tecnológicos os trabalhadores teriam mais tempo para o lazer, para o ócio; enfim, para viver uma vida mais tranqüila e mais saudável. O que se observa é justamente o contrário. Raras exceções, os trabalhadores acordam mais cedo e dormem mais tarde para “dar conta” de suas responsabilidades profissionais, familiares. Isto não quer dizer que a tecnologia é algo mal ou bom por si mesma. O fato, é que devemos percebê-la sem nenhuma ingenuidade ou romantismo. A tecnologia, que tem contribuído para melhorar a vida das pessoas, é a mesma que tem provocado a extinção de algumas profissões, a redução de postos de trabalho e o aumento do desemprego. É a mesma que tem servido de instrumento, no atual sistema, para aumentar os ganhos financeiros de alguns poucos em detrimento do aumento da carga e do ritmo de trabalho para muitos.
     O que se vê é mais gente levando tarefa para casa e carregando o celular até para o banheiro, isto quando não dorme com ele ao lado do travesseiro. Além disto, os famosos emails ganharam notoriedade e vida própria, nos finais de semana e em qualquer horário este recurso está à disposição dos “viciados” em trabalho, dos amantes da “produtividade”. Já que nos dizem que o tempo é precioso, não dá para perder tempo não é mesmo? Sim, o tempo é precioso, mas para quê e para quem? Temos uma agenda lotada, mas nem sempre a vida é cheia de sentido e, não raras vezes, o trabalho preenche um vazio ou – no mínimo, nos proporciona confortável fuga.

Qual o sentido do trabalho e que espaço ele deve e pode ocupar na vida?

      Como não vivemos para sempre, o importante é tentar aproveitar a vida e o tempo da melhor maneira possível; porque o resultado dessa correria toda só pode ser dores, ansiedade, esgotamento. Não por acaso, pesquisadores já identificaram diversas doenças relacionadas ao excesso de trabalho. Estresse, distimia, depressão e burnout são apenas algumas. Mas há também as chamadas doenças ocupacionais, que nem sempre são perceptíveis a olho nu. Tais doenças têm o poder de aprisionar o indivíduo, de calar sua expressão e provocar um sofrimento silencioso. A pessoa afetada perde aos poucos a capacidade de desempenhar tarefas simples e de se comunicar normalmente. Quando não levadas a sério, as doenças do trabalho podem incapacitar as pessoas para a profissão e para a vida.
     Antes que o pior aconteça precisamos lembrar, como nos adverte Charles Chaplin, de que “não sois máquinas, seres humanos é que sois”. Não devemos ser escravo de ninguém e de nada, muito menos podemos tolerar uma sobrecarga, um ritmo de trabalho que extrai de nós o direito de viver com saúde, com mais dignidade humana. As propagandas, os apelos diários ao consumo, nos impelem a uma vida de aparência, de um “status” pré-estabelecido; remetendo-nos, quase sempre, a querer mais e mais, a adquirir coisas que – na maioria das vezes, não faz nenhum sentido. Pense nisto.

Fonte: Sinergia SC

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A lógica do salário mínimo

Por Nildo Ouriques –  Professor do Departamento de economia da UFSC – IELA

20.02.2011 – O debate acerca do salário mínimo expõe os limites do capitalismo no país. Por um lado, os interessados em mostrar um país forte, alegando a existência da nova classe média e um poderoso mercado interno de massas, consideram R$ 600,00 uma “irresponsabilidade”, como afirmou o presidente da CNI. Tudo isso num país em que 2/3 da força de trabalho recebe até 3 salários mínimos!

     O DIEESE divulga há muitos anos o cálculo do salário mínimo necessário. Trata-se de um conceito decisivo, pois expressa o valor para remunerar adequadamente um trabalhador e sua família: R$ 1.972,64, nos preços de abril de 2009. A análise do desenvolvimento capitalista nos países centrais revela a importância do salário para o fortalecimento do capitalismo. Salários elevados vitalizavam o mercado interno e forçavam a renovação tecnológica, pois o empresário era induzido a substituir a mão de obra por máquinas. Havia também o protecionismo do mercado interno que inibia a concorrência com os produtos de outros países, política que as potencias ainda preservam e, de fato, é o principal instrumento de política comercial. É o caso típico dos Estados Unidos. É uma lição da economia política clássica do século XIX.

     No Brasil, mesmo a ampliação do crédito ao consumidor revelou que não pode sustentar taxas elevadas de crescimento porque, ao fim e ao cabo, a capacidade de endividamento dos assalariados é pequena. O argumento que o salário mínimo elevado ampliaria o rombo da previdência é, além das falsidades permanentemente divulgadas sobre o suposto déficit previdenciário, uma declaração de que o número de trabalhadores com carteira assinada não poderá aumentar jamais. Enfim, no conjunto, o recado é claro: o mercado de trabalho será sempre “precarizado” para a maioria dos assalariados. A nova situação indica também, talvez mais cedo do que alguns ingenuamente imaginavam, que o tempo dos reajustes abaixo da inflação voltou. Aquela brevíssima primavera em que os trabalhadores arrancavam minúsculos ganhos de produtividade chegou ao fim. 

     No debate parlamentar, as imagens mostraram os antigos líderes sindicais trajando sóbrias gravatas e, sem inibição alguma, subindo a tribuna para justificar a política oficial. A cena é elucidativa. Na década de oitenta, na grande onda do protesto operário que abalou os pilares da ditadura e abriu de maneira definitiva o caminho para a “Nova República”, os sindicalistas ganharam consciência de que somente no chão de fábrica poderiam conquistar seu quinhão, fruto exclusivo do ativismo sindical. Mas a sedução parlamentar levou vários deles a condição de senadores e deputados e, mais importante, o principal líder operário da época à presidência da república. Agora, mesmo aqueles que protestaram no parlamento e, portanto, se mantinham fiéis a velha causa, certamente existia ilusões acerca da possibilidade de vitória numa câmera de deputados dominada por empresários-políticos e políticos a serviço dos empresários.

     Existem épocas em que os trabalhadores esquecem sua própria história de lutas, submetendo-se a uma espécie de “amnésia social”, cujas conseqüências foram sempre graves para seus interesses. Assim, entre os que defendiam a política oficial e os que protestavam contra ela, havia algo em comum: a percepção de que a disputa agora é no parlamento. Nada poderia ser mais desastroso para futuras conquistas. Sem uma forte retomada do ativismo sindical nas fábricas, a renovação da práxis política entre os sindicalistas não será possível. Os tempos de austeridade que novamente se anunciam, parece reconstruir o terreno da disputa que originou o sindicalismo combativo no passado. Mas esta é apenas uma possibilidade.

     Neste contexto, a decisão entre os míseros R$ 545,00 proposto pelo governo e os “generosos” R$ 600,00 da oposição, não deixa dúvidas de que, para além da pedagogia da migalha implícita no debate, a classe trabalhadora não pode ter ilusões do lugar reservado a ela no capitalismo brasileiro. 

Fonte: IELA – Instituto de Estudos Latinoamericanos UFSC