A tensão é cada vez maior na Bolívia. Manifestantes da Marcha ao Socialismo (MAS), a maioria indígenas, exigem a nacionalização – sem indenização para as companhias estrangeiras – das fontes de gás e petróleo do país e a convocação de eleições para substituir o Parlamento e a presidência do País.
Os manifestantes chegaram a La Paz, capital do País, e bloquearam as principais estradas de acesso, em uma grande mobilização de sindicatos e dos movimentos populares contra a expropriação dos bens da Bolívia. Houve muita violência nos choques com a polícia.
Na semana passada, o Congresso boliviano promulgou a Lei de Hidrocarbonetos, que fixou em 18% os royalties a serem pagos por companhias estrangeiras que exploram o petróleo e o gás boliviano e em 32% o imposto sobre a produção. A medida atinge, entre outras empresas, a brasileira Petrobras, mas não é considerada suficiente pelos grupos indígenas.
O presidente Carlos Mesa está entre dois fogos, não satisfazendo os manifestantes nem os representantes do capital. Contrariados com a política do presidente Carlos Mesa – que em sua visão tem feito muitas concessões aos sindicalistas e grupos indígenas, afastando o investimento externo -, políticos do rico Departamento (província) de Santa Cruz, no Oeste do país, têm ampliado as reivindicações de autonomia. Em outro sinal de divisão da sociedade boliviana, os indígenas exigem a instalação de uma Assembléia Constituinte, rejeitada pelos grupos autonomistas de Santa Cruz.
As Forças Armadas da Bolívia emitiram na segunda-feira um comunicado conclamando todas as partes a respeitar a Constituição em vigor e a manter a ordem pública. Por seu lado, o líder da Central Operária Boliviana (COB), Jaime Solares, defendeu uma intervenção militar, dizendo-se disposto a apoiar “um coronel ou general ao estilo do presidente venezuelano, Hugo Chávez”.
Já o deputado e líder cocalero Evo Morales, do Movimento ao Socialismo (MAS), a segunda maior força no parlamento, contestou Solares e insistiu que deve-se defender a democracia.
A divisão entre os dois tem feito com que as mobilizações sociais não tenham um rumo definido. Apesar do acirramento da crise, Mesa manteve sua agenda e viajou para Sucre, a capital oficial do país, para celebrar o 196º aniversário do primeiro grito de independência da América do Sul.
Argentina envia representante à Bolívia
O ministro das Relações Exteriores argentino, Rafael Bielsa, confirmou ontem o envio de um representante para acompanhar a situação na Bolívia, como fez o Brasil ao enviar Marco Aurélio Garcia, assessor de política externa de Luiz Inácio Lula da Silva. “Estamos acompanhando a delicada situação institucional na Bolívia e esperamos que as coisas melhorem”, afirmou o chanceler, que não identificou o enviado de seu país.
“Tentamos trabalhar conjuntamente (com o Brasil) à medida que a Bolívia nos peça”, acrescentou Bielsa ao confirmar o envio de um diplomata a La Paz e também a presença nessa cidade de um enviado do governo brasileiro. Nos últimos dias se multiplicaram na Bolívia os protestos de camponeses e mineradores que exigem a estatização dos recursos de petróleo e de gás do país e a convocação de uma Assembléia Constituinte.
Diplomatas argentinos e brasileiros intermediaram na crise que em outubro de 2003 desembocou na renúncia de Gonzalo Sánchez de Losada à presidência boliviana, que passou para Mesa, até então vice-presidente. O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, fez ontem votos para que “os bolivianos encontrem a unidade nacional e a governabilidade plena de que precisam”.
“A Bolívia tem um presidente muito bom, que é (Carlos) Mesa”, destacou Kirchner, em declarações nas quais mostrou sua preocupação com a situação em La Paz, que vive o segundo dia de protestos. “Eu me preocupo com a situação da Bolívia porque é um país irmão, um país que queremos com mais democracia consolidada, explorando sua riqueza, crescendo”, disse Kirchner.
Fonte: Tribuna da Imprensa, com informações da agência EFE