Maioria dos pobres no Brasil é de indivíduos negros

A maioria dos pobres no Brasil é de indivíduos negros. A constatação é de técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), em estudo publicado ontem sobre a desigualdade entre as raças branca e negra e os gêneros masculino e feminino, intitulado Retrato das Desigualdades – Raça e Gênero.
As estatísticas são de 2003 e revelam que 20% da população branca encontrava-se abaixo da linha de pobreza, enquanto 43% da população negra pertencia a esta faixa naquele ano.
Os indicadores de indigência também mostram disparidades entre brancos e negros. Ao usar dados de rendimento por pessoa, e não o tradicional indicador renda per capita, calculado pela divisão dos rendimentos de todos os familiares somados, o estudo mostrou que 7% dos brancos recebem menos de um quarto do salário mínimo por mês, enquanto 19% dos negros percebem esse valor individualmente.
A má distribuição de renda também é maior entre os negros. Entre os 10% mais pobres da população, 64,6% são negros. No outro extremo, entre os 10% mais ricos da população, só 22,3% são negros. Quando se estreita esta faixa de avaliação para 1%, chega-se a um índice de 11,5% de indivíduos negros nesta condição.

Mulheres
No Brasil, 21% das mulheres negras trabalham como empregadas domésticas e apenas 23% delas têm carteira assinada. Já entre as mulheres brancas apenas 12,5% delas estão no serviço doméstico e 30% têm registro na carteira. O estudo mostra as desigualdades entre brancos e negros e ainda entre homens e mulheres.
“Sabemos que a população negra é a mais pobre entre os pobres e que as mulheres negras são ainda mais pobres que os homens. Agora, estudos como este promovem um detalhamento dessa realidade e são fundamentais para nos direcionar em relação às prioridades da ação de governo”, afirmou a ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, no lançamento da pesquisa.
Em todas as áreas analisadas, como educação, mercado de trabalho e acesso a bens e serviços, as mulheres negras apresentam os piores indicadores. Em média, o salário delas equivale a apenas 30% do rendimento dos homens brancos. E o desemprego (16,6%) é duas vezes maior que entre os brancos (8,3%).

Educação
As disparidades entre brancos e negros se refletem também nos indicadores educacionais. O estudo mostra, por exemplo, que o analfabetismo dos negros maiores de 15 anos atinge a 16,8% deles, enquanto 7,1% dos brancos nessa faixa etária são analfabetos. Os dados são de 2003, ano em que a taxa média nacional de analfabetos era de 11,6%.
A média nacional de analfabetismo, na edição anterior do estudo, em 1993, era de 16,4%. Ou seja, os negros apresentam taxa de analfabetismo bem superior à media da população como um todo, sendo o percentual de analfabetos negros hoje maior que o da população em geral há 10 anos.
A desigualdade é visível também quando se compara o crescimento na média de anos de estudo da população entre brancos e negros. Os brancos, em 1993, tinham 2,1 anos a mais de estudo que os negros.
O diferencial caiu pouco em 2003, quando os negros passaram a ter 1,9 anos a menos de estudo que os brancos. O diferencial, aponta o estudo, é menor na faixa de idade acima dos 15 anos e maior quando o item avaliado é o tempo de escolaridade. Quando o tempo na escola avaliado é de 12 anos ou mais, o diferencial entre brancos e negros cresce.

Fonte: Tribuna da Imprensa On Line