MAB: A resistência dos atingidos

A história dos atingidos por barragens no Brasil tem sido marcada pela resistência na terra, luta pela natureza preservada e pela construção de um Projeto Popular para o Brasil que contemple uma nova Política Energética justa, participativa, democrática e que atenda os anseios das populações atingidas, de forma que estas tenham participação nas decisões sobre o processo de construção de barragens, seu destino e o do meio ambiente.
Na década de 70, foi intensificado no Brasil o modelo de geração de energia a partir de grandes barragens. Usinas Hidrelétricas são construídas em todo o país, projetos “faraônicos” são levados adiante com o objetivo principal de gerar eletricidade para as indústrias que consomem muita energia chamadas de eletro-intensivas e para a crescente economia nacional, que passava pelo chamado “milagre brasileiro”, durante a ditadura militar.
Estas grandes obras desalojaram milhares de pessoas de suas terras, uma enorme massa de camponeses, trabalhadores que perderam suas casas, terras e o seu trabalho. Muitos acabaram sem terra, outros tantos foram morar nas periferias das grandes cidades. Desta realidade surge a necessidade da organização e da luta dos atingidos por barragens no Brasil, como forma de resistir ao modelo imposto.
Três focos principais de resistência, organização e luta pode ser considerados como o berço do que viria a ser o MAB anos mais tarde:
 
Primeiro na região Nordeste, no final dos anos 70, a construção da UHE de Sobradinho no Rio São Francisco, onde mais de 70.000 pessoas foram deslocadas, e mais tarde com a UHE de Itaparica foi palco de muita luta e de mobilização popular.
Segundo no Sul, quase que simultaneamente em 1978, ocorre o início da construção UHE de Itapu na bacia do Rio Paraná, e é anunciada a construção das Usinas de Machadinho e Itá na bacia do Rio Uruguai, que criou um grande processo de mobilizações e organização nesta região.
Terceiro na região Norte, no mesmo período, o povo se organizou para garantir seus direitos frente a construção da UHE de Tucuruí.
 
Todas as obras acima citadas, apresentam dois fatos marcantes: a existência ainda hoje, de organização popular, e como aspecto negativo, todas tem ainda problemas sociais e ambientais pendentes de solução devido a construção das barragens.
Nestas obras e nas demais regiões do Brasil, a luta das populações atingidas por barragens que no início era pela garantia de indenizações justas e reassentamentos, logo evolui para o próprio questionamento da construção da barragem. Assim, os atingidos passam a perceber que além da luta isolada na sua barragem, deveriam se confrontar com um modelo energético nacional e internacional. Para isso, seria necessário uma organização maior que articulasse a luta em todo o Brasil. Um exemplo é a hidroelétrica Itá. Toda a energia produzida é distribuída em regiões do Rio Grande do Sul, o que poderia abastecer metado de Santa Catarina.
 
Mais informações no site http://www.mabnacional.org.br
Afogados na mágoa
Todo este meu sofrimento
é causado por um projeto.
Uma laje de concreto
atacou o Rio Uruguai,
por vingança a água sai
afogando a natureza
até lá onde a onda vai.

Até meu lindo arvoredo
lá onde fazia meus versos
ficou tudo submerso,
morreu minha felicidade,
mesmo contra minha vontade
vendo tudo embaixo da água
com o coração cheio de mágoa
eu me bandiei pra cidade.

Minha junta de boi manso,
me obriguei a chamar na faca.
A brasina, minha vaca,
não vejo mais no curral.
Meu cachorro policial,
com certeza já morreu ou então vive como eu
sofrendo do mesmo mal.

O Adão, o Antônio e o Ciqueira,
meus três primeiros vizinhos,
uns foram pra Carazinho,
outros pra Parobé,
Meus filho e minha mulher,
viviam sempre risonhos
Hoje andam tão tristonhos
nem ouvir meus versos quer.

Mas eu não perdi a esperança
De um dia organizar esta massa
e eleger alguém que faça
realmente um Brasil novo.
Que mate a fome do povo,
faça a Reforma Agrária e
devolva minha área
pra mim ser feliz de novo.

Autor: Celso Moretti