Por Marcela Cornelli
Em seu décimo-primeiro mês de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já admite ser candidato à reeleição em 2006. Ele manifestou essa vontade em entrevista ao programa “Canal Livre”, exibido na noite de ontem (30/11) pela Rede Bandeirantes de televisão.
Lula disse ter “obsessão” não pelo cargo de presidente da República, mas pelas políticas públicas “que podem mudar a vida do povo”. Na avaliação do presidente, a alternância de poder é uma prática positiva no Brasil e permite ao administrador público não se viciar diante da estrutura pública. “Eu acho que você não pode nunca ficar muito tempo no poder. Você fica viciado, você vai se adaptando à máquina, você vai permitindo que coisas boas não te aconteçam. Então, eu sou favorável à alternância no poder, acho que um partido pode ter um projeto mais longo, mas acho que esse projeto pode ser construído pelo seu partido, por uma aliança política, que não precisa ser o seu próprio partido. Agora, é muito cedo para a gente falar quanto tempo nós queremos. Nós vamos trabalhar para ficar o tempo possível”, afirmou.
Reforma Ministerial
Lula disse que vai promover mudanças em seu primeiro escalão “no momento certo”, e não adiantou quando pretende colocar em prática as modificações em seu Ministério.
O presidnete deu um recado direto ao peemedebistas que aguardam por cargos no governo: “Eu me reuni com a direção do PMDB e disse: vocês vão para o governo, vamos aguardar votar a reforma (da Previdência), porque não me interessa fazer nada precipitado que passe para a sociedade a idéia do fisiologismo. Não é bom para o PMDB, não é bom para o governo e não é bom para ninguém”.
Radicais do PT
Lula aproveitou a entrevista para “quebrar o silêncio” sobre os membros do PT que votaram contra o governo na questão da reforma da Previdência e por isso, estão ameaçados de expulsão pelo partido. Segundo Lula, não é papel do presidente da República julgar o comportamento de parlamentares. Mas ele deixou claro que, ao fazer a opção por se filiar a um partido político, o deputado ou senador tem regras explícitas a seguir. “A minha liberdade individual, os meus direitos individuais, eles terminam quando eu começo a participar de uma instância coletiva que delibera alguma coisa. Quando o partido discute uma coisa e fecha uma questão favorável ou contra alguma coisa, todos nós que somos do partido estamos na obrigação de cumprir”, enfatizou.
Segundo Lula, a única alternativa para políticos que insistem em se voltar contra as decisões do partido é lutar pelo direito da candidatura avulsa nas eleições.
Ao se dirigir especialmente à senadora Heloísa Helena (PT-AL), Lula disse ter um “profundo respeito” pela senadora, mas deixou claro que não pretende conceder “indulto” a quem desrespeitar as normas do partido.
O presidente também rebateu as críticas de que o PT mudou o seu discurso depois de assumir a Presidência. Usando mais uma metáfora, o presidente comparou o PT no governo com o seu casamento com a primeira-dama Marisa Letícia. “O Lula casado não era o Lula solteiro. Não levei minha vida de solteiro. No governo é assim. Ganhou as eleições é governo, ônus e bônus”, disse.
Reforma Agrária
Lula reiterou a meta de assentar 400 mil famílias no campo até o final de seu governo e regularizar 130 mil propriedades rurais. Segundo o presidente, não há atrito entre o Executivo e os trabalhadores rurais sem-terra, ou mesmo diferença de pensamentos entre os dois grupos. “Não pode ter diferença. Eu gostaria que eles aderissem à minha proposta, e nem nós aderimos à proposta de assentar um milhão, não temos condição de assentar um milhão nesse tempo. O problema não é aritmético. É de qualificação. Eu pedi aos sem-terra que não me julguem com 11 meses de governo. Você tem que esperar o final do jogo para você julgar”, disse.
Maioridade penal
Sobre a proposta de redução da maioridade penal no país, o presidente admitiu ser contrário à mudança. Segundo Lula, a redução não é uma “solução mágica” para o problema da violência. “A cada vez que acontece um crime desses, que choca a população, começam-se a apresentar soluções mágicas. Não tem solução mágica. Não tem. A pena de morte não é solução mágica, não foi em nenhum país onde ela foi criada, a redução da idade não é solução mágica”, disse.
Para Lula, uma solução para o problema da violência é a revisão do Estatuto da Criança e do Adolescente com o objetivo de punir de maneira mais rígida os menores que praticam graves delitos. “Tudo o que é feito nesse país de legislação pode ser revisto de tempos em tempos. Eu acho que o jovem que cometeu um delito merece um tipo de punidade. Agora, um jovem que matou um, matou outro, aí já merece que haja uma punição maior. Eu acho que podemos fazer a revisão necessária. Eu sou um homem que não tenho uma posição fechada, eu sou contra ou a favor, e fim de papo. Não. Alguém tem que me convencer que tal coisa é melhor”, enfatizou.
O presidente encerrou a entrevista garantindo que, no final deste ano, vai fazer uma prestação de contas com a sociedade para apresentar um balanço do que foi feito em seus 11 meses de governo.
Fonte: BBC Brasil