O fundador da Coalizão Cristã, que foi pré-candidato republicano às eleições presidenciais de 1998, e apresentador de programas evangélicos na TV americana, Pat Robertson, fez um fervoroso apelo na última segunda-feira para que o governo dos Estados Unidos assassine o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Em seu programa The 700 Club – que segundo seu site na internet tem audiência de cerca de 1 milhão de telespectadores diariamente – transmitido à noite, Robertson descreveu o líder bolivariano como um “perigo terrível” porque, ao contrário do que desejam os EUA, quer transformar seu país na “plataforma para a infiltração comunista e para o extremismo islâmico”. “Nós temos a habilidade de tirá-lo do poder e eu acho que chegou a hora de fazer uso dessa habilidade”, afirmou. “Nós não precisamos de outra guerra de US$ 200 bilhões para se livrar de, vocês sabem, um ditador linha-dura. É muito mais fácil que agentes infiltrados façam o trabalho”, completou se referindo à intervenção militar imperialista no Iraque, na qual o presidente Saddam Hussein foi afastado.
Há alguns meses, o presidente venezuelano vem denunciando que tem conhecimento de que sua vida está ameaçada e que seu país pode ser invadido por forças militares imperialistas dos EUA, em uma ação capitaneada pelo presidente norte-americano George W. Bush, a quem se refere como Mr. Danger (Sr. Perigo em inglês).
O vice-presidente venezuelano, José Vicente Rangel, condenou as afirmações de Robertson e o acusou de ter cometido um ato criminoso. Ele também acrescentou que a resposta a estas observações vão colocar a política supostamente antiterrorismo dos EUA à prova. “A bola está nos pés dos americanos depois desta declaração criminosa feita por um cidadão daquele país. É uma enorme hipocrisia manter o discurso contra o terrorismo enquanto que, ao mesmo tempo, no coração daquele país, há declarações totalmente terroristas como estas”, disse Rangel.
Entretanto, o líder evangélico não está sozinho. Um porta-voz do canal que transmitiu o programa, Christian Broadcasting Network, defendeu o apresentador. “Estamos em tempo de guerra e Pat (Robertson) tinha a guerra em mente quando fez os comentários”, disse.
O vice-presidente venezuelano afirmou que o governo do país está analisando quais são as medidas legais que poderão ser tomadas. “Este homem não pode ser um cristão verdadeiro. Foi uma agressão vinda da direita (da América) do Norte”, disse Desire Santos Amaral, deputada venezuelana.
Em coletiva de imprensa, o secretário de Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld afirmou que “nosso departamento não faz esse tipo de ações. Vai contra a lei. O (pastor) é um cidadão privado, e os cidadãos privados dizem todo o tipo de coisa todo o tempo”. Segundo o secretário, até onde ele sabe, nunca foi considerado um assassinato de Chávez.
Entretanto, há controvérsias. Em meados de maio deste ano, a principal organização de ultra-direita venezuelana e raivosa opositora do processo bolivariano, conhecida como uma suposta ONG chamada Súmate, teve sua presidente, María Corina Machado, recebida pessoalmente pelo presidente George W. Bush na Casa Branca.
Projetos são mais importantes
Hugo Chávez, que está em Cuba, disse que ignora o ataque do líder de ultra-direita dos EUA e assegurou que são mais importantes os projetos discutidos com o presidente cubano, Fidel Castro, para ampliar a colaboração na área da saúde. Ele disse não conhecer o pastor evangélico Pat Robertson e menosprezou as declarações do líder.
Ao invés de retrucar as acusações de ditador, Chávez destacou para a imprensa internacional os resultados promissores da reunião que teve com Castro. “Estivemos estudando o plano da Petrocaribe, uma proposta de integração regional para o fornecimento de combustíveis”. “Isso é muito mais importante”, afirmou, acrescentando que “pouco me importa o que dizem por lá (nos EUA)”.
Chávez já acusou várias vezes os EUA de planejar sua derrubada ou seu assassinato. No programa televisivo, Robertson provocou: “Não sei muito sobre essa doutrina de assassinato de Estado mas se ele acha que estamos tentando matá-lo, acho que devíamos ir em frente e matá-lo. É muito mais barato que começar uma guerra. E não acho que o fornecimento de petróleo vá ser interrompido”.
A Venezuela é o quinto maior exportador de petróleo do mundo e um fornecedor importante para os EUA. Robertson é conhecido por declarações polêmicas. Em uma de suas últimas, disse que o feminismo “incentiva as mulheres a abandonar os maridos, matar os filhos, fazer bruxarias, destruir o capitalismo e se tornar lésbicas”.
Generosidade petroleira
Indiferente à ofensiva da ultra-direita conservadora norte-americana, no início da noite de ontem, Chávez ofereceu suprimentos baratos de gasolina para norte-americanos necessitados. “Queremos vender gasolina diretamente para as comunidades pobres dos Estados Unidos”, afirmou. A PDVSA, estatal venezuelana de petróleo, é dona da Citgo, que tem 14 mil postos de gasolina nos Estados Unidos.
Na Venezuela, país produtor de petróleo, a gasolina é mais barata que água mineral. O tanque de um carro pode ser cheio com cerca de 3 reais. Nos Estados Unidos, a tendência dos preços é de alta. O líder bolivariano afirmou que poderia suprir gasolina para os norte-americanos por metade do preço se os intermediários que “especulam e exploram os consumidores” ficarem à margem do negócio. A Venezuela favorece alguns países latino-americanos na venda de petróleo e planeja ajudar também outros países caribenhos.
Fonte: Diário Vermelho