O líder da Revolta da Chibata de 1910, João Cândido Felisberto, poderá ter seu nome incluído no Livro dos Heróis da Pátria, que se encontra no Panteão da Liberdade e da Democracia, na praça dos Três Poderes, em Brasília.
Surpreendentemente, a iniciativa não veio das forças de esquerda no Parlamento, nem do Rio de Janeiro, onde João Cândido viveu até os 89 anos de idade, reverenciado como uma espécie de herói popular. O Projeto de Lei 5874/05 foi apresentado pelo deputado Elimar Máximo Damasceno (Prona-SP).
A Revolta da Chibata ocorreu em unidades da Marinha de Guerra brasileira baseadas no Rio de Janeiro, em novembro de 1910. Os marinheiros tomaram os principais navios da Armada, em protesto contra suas condições de trabalho, os alimentos estragados que lhes eram oferecidos, os trabalhos pesados que lhes eram impostos e principalmente o costume degradante da do castigo da chibata, herança da escravidão.
“Na época, a Marinha brasileira estava dentre as mais fortes do mundo. Já o tratamento dos marinheiros repetia as piores tradições. João Cândido, filho de escravos, liderou a revolta pela dignidade humana em nossa Marinha e em nosso país”, argumentou Damasceno.
“O Almirante Negro”
Os marinheiros tinham contato com o movimento operário e os partidos marxistas da Europa, onde iam acompanhar as fases finais de construção dos navios adquiridos pela Marinha de Guerra. O próprio João Cândido, como marinheiro de 1ª classe, seguiu para a Europa, onde assistiu ao final da construção do encouraçado Minas Gerais. Assim, a rebelião foi cuidadosamente preparada, inclusive com comitês clandestinos em cada belonave.
A revolta teve início na madrugada de 23 de novembro de 1910, em resposta ao castigo de 250 chibatadas sofrido pelo marinheiro Marcelino Rodrigues de Menezes. Sob o comando de João Cândido, amotinaram-se as tripulações dos encouraçados Minas Gerais e São Paulo e também dos cruzadores Barroso e Bahia, reunindo mais de dois mil revoltosos.
A cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, foi mantida por cinco dias sob a mira de canhões. João Cândido recebeu então o apelido de “o Almirante Negro”, pela maestria com que comandou a frota em evoluções depa Baía da Guanabara.
O então presidente da República, Hermes da Fonseca, não encontrou saída que não fosse ceder às exigências dos marinheiros. “No dia 25 de novembro, o Congresso, apressadamente, aprovou as reivindicações dos marujos, incluindo a anistia. João Cândido, confiando nessa decisão, resolveu encerrar a rebelião, recolhendo as bandeiras vermelhas dos mastros”, conta o autor da proposta.
A revanche da reação
Três dias depois, porém, veio a traição. O então ministro da Marinha determinou a expulsão dos líderes do movimento. Os marinheiros tentaram reagir, mas o governo lançou violenta repressão que culminou com dezenas de mortes, centenas de deportações e a prisão de João Cândido. “O Almirante Negro” foi colocado numa masmorra da Ilha das Cobras de onde foi o único a sair vivo, de 18 marinheiros.
Solto anos depois, João Cândido passou a viver como vendedor de peixes na Praça Quinze, Rio de Janeiro. “Morreu em 1969, sem patente e na miséria. Agora é hora de a nação honrá-lo, inscrevendo seu nome no livro dos heróis da pátria”, defendeu Damasceno.
Tramitação
O projeto tramita em caráter conclusivo e será examinado pelas comissões de Educação e Cultura e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Fonte: Agência Câmara