Por Marcela Cornelli
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, por meio de seu porta-voz, André Singer, que o Brasil está à disposição para ajudar a Bolívia a encontrar uma saída pacífica para a crise política. Numa sutileza diplomática, Lula não disse que está disposto a ajudar o presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, mas sim “os bolivianos”, o que inclui a oposição.
“O Brasil está disposto a fazer tudo o que for considerado útil para ajudar os bolivianos a encontrar uma solução pacífica e legal para superar o mais rápido possível o atual momento de dificuldades”, disse Singer, à noite. Até ontem, o Brasil não fora acionado para mediar o conflito. Se for, poderá participar. A declaração foi feita depois do embarque de Lula para a Argentina. O governo Lula diz não apóiar a tentativa de golpe, mas também não estar satisfeito com o presidente Sánchez de Lozada, que é aliado incondicional dos Estados Unidos e é o responsável pela violência que já gerou cerca de 70 mortes e tem poucas chances de manter o cargo.
De acordo com a Folha de São Paulo, a posição equidistante entre oposição e governo constitucional deverá ficar clara hoje nas manifestações de Lula e do presidente argentino, Néstor Kirchner, que se encontram em Buenos Aires. Eles devem condenar, igualmente, a oposição e o que consideram truculência na reação do governo.
Lula e Kirchner deverão lembrar a “cláusula democrática” do Mercosul, que prevê sanções, inclusive interrupção de cooperação, para países que desrespeitem normas básicas de democracia. A Bolívia é país associado do bloco.
Segundo o embaixador do Brasil em La Paz, Antonino Mena Gonçalves, “o Brasil aguarda que os dois lados (governo e oposição) abram canais de diálogo, mas o quadro negociador é muito confuso”.
A expectativa, até ontem, era a de que a Igreja Católica e a OEA (Organização dos Estados Americanos) entrassem como mediadores, tentando abrir o diálogo governo-oposição. “Apesar do enorme prestígio que o Brasil e o presidente Lula têm aqui, não houve pedido nem oferecimento para que o Brasil participasse desse esforço de negociação”, disse o embaixador, por telefone.
Ainda ontem, o chanceler Celso Amorim disparou uma série de telefonemas a pedido de Lula. Falou com o secretário-geral da OEA, César Gaviria, com a chanceler da Espanha, Ana Palácios, e com o ex-presidente da Bolívia Jaime Paz Zamora, líder do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), partido que apóia Sanchéz de Lozada.
Fonte: Folha de São Paulo Online