Por Caio Teixeira, Coordenador de Comunicação do Sintrajusc – De Caracas (Venezuela), onde participa pela Fenajufe do III Fórum Social Pan Amazônico 2004, que acontece de 4 a 8 de fevereiro
O dia 4 de fevereiro, foi de muita mobilização na Venezuela. Comemorou-se a primeira tentativa de instalação da “revolução bolivariana”. Foi uma investida frustrada, liderada por Hugo Chaves em 1992, de tomar o poder das mãos das elites históricas, comprometidas com os EUA.
Para comemorar, os venezuelanos foram às ruas em massa. Depois de uma marcha por Caracas com dezenas de milhares de pessoas, o povo encheu o hipódromo da capital, comandados ao microfone pelo próprio Hugo Chaves que é um excelente animador de multidões, rara qualidade para um presidente. A enorme platéia de apoiadores cantava: “Chaves no se va, Chaves no se va”. Era uma resposta à oposição de direita que faz campanha por um referendo para tirar Chaves da presidência. Contando fatos históricos e falando o tempo todo, no estilo Fidel, ele manteve por horas a fio a atenção da multidão relembrando fatos da luta, citando Che e Bolivar, com transmissão em rede nacional de televisão para desespero da direita empedernida e desconsolada.
Quem ouve o presente relato poderá dizer que é puro marketing populista de um presidente bom de microfone. Mas não é bem assim.
A Venezuela parece uma versão do filme Matrix. Há uma realidade virtual criada pela imprensa (TV, rádio e jornais) toda nas mãos da direita pró-EUA. Escapa apenas uma TV estatal controlada pelo governo, cujo sinal é freqüentemente sabotado pelas demais que controlam a tecnologia. As redes privadas fazem campanha aberta e direta contra Chaves, o tempo todo. Os meios de comunicação exortam o povo a derrubar Chaves abertamente. Como porta-vozes da oposição as TV´s se empenham na campanha pelo referendo. Todo o tempo, em todos os programas, só se fala nisso. Os programas de auditório, os telejornais, as Hebe e os Ratinhos daqui pregam abertamente contra o governo. Quando a multidão de milhões foi às ruas tirar do palácio o empresário golpista e devolver Chaves à presidência do país, as redes de TV continuaram passando suas novelas e os telejornais noticiavam o golpe como irreversível. Quem se queixa da mídia no Brasil, está chorando de barriga cheia. Um editorial do Estada defendendo as privatizações é uma tese de esquerda se comparado ao que faz a imprensa na Venezuela. a direita no Brasil se esconde, finge que não é direita, inventa justificativas. Na Venezuela ela é explícita e agressiva como uma fratura exposta.
Bem, diríamos nós, contra uma mídia destas, não há possibilidade de vitória a não ser explodindo suas torres de transmissão. Errado.
Mesmo com todo o massacre da comunicação de massa, o povo está com Chaves e não abre. A imensa maioria dos trabalhadores está com ele. São taxistas, camelôs, desempregados, eletricitários, garçons, bancários. É raro abordar um popular na rua e ele não apoiar Chaves. Até mesmo os petroleiros o apóiam. A greve da empresa de petróleo organizada contra Chaves foi feita por altos técnicos que conseguem parar uma refinaria com um “enter” no computador. Os trabalhadores de campo se dispunham a trabalhar mas não tinham o controle sobre as operações.
A resposta ao mundo virtual criado pela mídia, se pode ler em todos os muros do país: “viva a revolução bolivariana”, “não à extorsão e a chantagem dos reis da comunicação”, “não à venda de petróleo aos ianques”, “fora Bush aceno”, e por aí a fora. As pichações representam o mundo real das ruas. Estudiosos de Comunicação devem vir à Venezuela tentar descobrir qual a vacina contra uma mídia escandalosamente criminosa que atenta contra a verdade compulsivamente e agride a vontade do povo. Para conhecer a Venezuela, desligue a TV, saia para a rua e misture-se ao povo. Não é difícil pois a população está sempre na rua, liderada pelo presidente. Não há segredo. Não dizemos sempre que só vamos garantir mudanças com o povo nas ruas? A experiência venezuelana é uma prova material e histórica de que este é o único caminho. Daqui a pouco começa o Fórum Social Panamazonico com uma grade marcha dos povos da Amazônia e a presença do presidente Hugo Chaves. dizem que Lula também virá. Não há confirmação.