A greve geral contra as reformas previdenciária, trabalhista e a lei das terceirizações transcorrida na sexta-feira (28) está entre as maiores paralisações nacionais de trabalhadores no Brasil da história. Pode até mesmo ter sido a maior já realizada no país, incluindo a de dois dias em 1989, considerada até aqui a maior já ocorrida. Nas estimativas das centrais que convocaram o ato, há quem calcule que cerca de 40 milhões de trabalhadores participaram do protesto. A greve aconteceu em todos os estados e no Distrito Federal.
Levantamento divulgado pelo portal de notícias “G1” aponta que houve manifestações em ao menos 254 cidades do país. O “G1” pertence ao sistema Globo, cujo principal programa de notícias televisivo, o Jornal Nacional, na véspera da greve nem sequer mencionou que uma paralisação nacional estava sendo convocada para o dia seguinte.
Números à parte, o que não há sombra de dúvida é que o protesto teve força e se constituiu numa demonstração vigorosa da rejeição dos trabalhadores e da população em geral às reformas que o presidente Michel Temer tenta aprovar, em ritmo acelerado, no Congresso Nacional.
Data histórica
Vinte e oito anos após a greve de 1989, que tinha na recuperação salarial decorrente da hiperinflação um dos pontos centrais de pauta, a mobilização nacional dos trabalhadores em um dia de paralisação de certa forma recoloca o movimento sindical no centro da política nacional.
Os protestos de sexta tiveram como marca o bloqueio de estradas e vias, a paralisação dos transportes em muitas cidades e uma ampla adesão de setores públicos. Levantamentos divulgados pelos meios de comunicação comerciais apontam que em 18 capitais do país os transportes coletivos pararam. Houve, ainda, expressivas adesões em setores privados da economia e em áreas como portuários e metalúrgicos.
Santa Catarina
Servidores do Judiciário Federal em Santa Catarina também participaram da Greve Geral histórica. Na Capital e nas principais cidades do estado, unidades da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal foram fechadas, e os colegas se uniram a milhares de trabalhadores que ocuparam as ruas. O Ato no prédio das Varas do Trabalho também foi histórico, com a participação de servidores da Justiça Eleitoral. Houve palestra do assessor jurídico do Sindprevs, Luis Fernando Silva, e declarações do presidente da Amatra, José Carlos Kulzer, do presidente da Ajufesc, Marcelo Micheloti, do presidente da Associação Catarinense do Ministério Público (ACMP), Luciano Naschenweng, da desembargadora Viviane Colluci e do juiz do trabalho Alessandro da Silva.
Logo após as falas, os servidores saíram em caminhada do prédios das Varas em direção ao Centro da Capital, onde se juntaram à caminhada que percorreu a avenida Beira-mar Norte e a avenida Mauro Ramos. Em cidades como Chapecó, Joinville, Criciúma e Itajaí, foram realizados Atos Unificados do quais participaram os colegas do Judiciário Federal nestas cidades.
Temer minimiza
Apesar das evidências e do reconhecimento até de alguns veículos da mídia comercial nacional e, principalmente, de outros países das dimensões consideráveis do movimento, o governo de Michel Temer tenta minimizá-lo, trabalha com números risíveis e diz que o que houve foi baderna e depredações.
Esse discurso, porém, está mais para propaganda e consumo externo do que para avaliação de fato do que aconteceu. Poucas vezes na história do país se viu agregar tanto apoio à ideia de parar tudo para defender alguma coisa – no caso, projetos que podem eliminar direitos trabalhistas e sociais em dimensões também jamais vistas.
A greve se alastrou, ganhou peso, apoio e envolveu algumas dezenas de milhões de famílias de trabalhadores. A despeito da opção da TV Globo por fingir que nada aconteceria na sexta-feira, o assunto esteve entre os três mais comentados do Twitter no mundo.
Aos movimentos sindicais e sociais parece agora estar posto conseguir articular um calendário que dê continuidade à campanha e que detenha a fúria do governo e de empresários pela aprovação dos projetos. Entra-se num momento decisivo e sabe-se que a unidade dos setores que se opõem às reformas é relativamente tênue, precisa ser cuidada.
Por outro lado, a impopularidade gigantesca das reformas e do presidente da nação estão expostas como nunca. O que talvez explique a opção do principal jornal da rede de televisão comercial aberta por tentar negar a existência dos protestos. A questão é que eles existem, repercutem e entram nas casas das pessoas, mesmo que não sejam televisionados.
Hélcio Duarte Filho, do Sintrajud, com edição do Sintrajusc