O fosso salarial que separa servidores públicos de empregados da iniciativa privada aumentou de forma considerável em 2008. Somadas, as remunerações médias do funcionalismo — estadual, municipal, federal, incluindo Legislativo, Executivo e Judiciário — ficaram 56,2% acima das praticadas fora da máquina administrativa [R$ 1.788 contra R$ 1.144]. Em 1998, essa diferença era de 32,5% [R$ 899 contra R$ 678].
Os dados, divulgados ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada [Ipea], sugerem ainda que o fator principal para o desequilíbrio está no nível de escolaridade da mão de obra.
Por definição, o mercado de trabalho no Brasil valoriza o profissional com mais anos de estudo. Olhando para quem escolheu o governo como patrão, essa máxima não falha. Conforme a pesquisa, percentualmente, o setor privado sempre esteve em desvantagem em relação à burocracia quando a comparação toma por base o grau de instrução dos profissionais.
Em 1998, por exemplo, 46,9% dos empregados da iniciativa privada tinham o ensino fundamental incompleto. No mesmo ano, apenas 25,7% dos servidores estavam nessa situação. Na outra ponta — a de maior qualificação —, 25,3% dos servidores tinham cursado alguma faculdade, enquanto que somente 8,6% dos empregados de empresas alcançaram tal nível. Essas distâncias não mudaram muito em 2008.
Reflexo
Fernando Mattos, pesquisador do Ipea e um dos autores do levantamento, explica que o fator escola é decisivo para explicar como cada um dos mundos do trabalho remunera seus funcionários. “Tem muito mais gente com nível superior no setor público do que no setor privado”, resume. Para ele, o fenômeno é reflexo do que acontece em outros países do mundo.
Para chegar a essas conclusões, a pesquisa do Ipea levou em conta números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios [Pnad]. Os técnicos compararam a remuneração média daqueles que trabalham em carga horária integral, têm entre 25 e 59 anos, estão no mercado formal e contribuem para algum sistema previdenciário. O trabalho também destaca os gastos públicos brasileiros com salários de servidores. “Na comparação com outros países, se percebe que no Brasil não existe nenhuma aberração. O gasto público com salários é semelhante ao de outros países do mundo”, reforça Mattos.