Na última segunda-feira, 1º/08, em que sua matriz, nos Estados Unidos, completou 25 anos, a MTV Brasil está às voltas com uma das maiores polêmicas de sua história. Uma campanha da emissora conclama os jovens brasileiros a caírem na despolitização, votarem nulo e se munirem de armas contra os políticos. Chama-se “Pacto MTV sobre eleições. Prepare ovos, tomates e principalmente, a pontaria”.
Diversas entidades juvenis, como a UNE e a Ubes, condenam a alienação pregada pela Music Television – que de música tem cada vez menos. Enquanto a MTV passou estes 25 anos potencializando o pop (gênero de consumo rápido e rala densidade), a juventude brasileira deixou sua marca em lutas como a queda da ditadura militar, o voto aos 16 anos e o impeachment de Fernando Collor. Sem contar as reivindicações nas áreas de cultura e lazer, como a meia-entrada em shows, eventos e espetáculos.
A emissora vai na contramão da história ao se dirigir a essa mesma juventude e pedir alienação política e violência. “Se a MTV rejeita a política como meio de transformação, é incoerente que lute contra drogas, disseminação da Aids, racismo e homofobia. Dá para resolver qualquer um desses problemas sem política?”, alerta Thiago Franco, presidente da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas). De acordo com o dirigente estudantil, um dos maiores riscos da campanha é não propor “nenhuma saída para além do voto nulo”.
Repúdio geral
A controvérsia ganhou repúdio de outras autoridades. Em depoimento à Folha de S.Paulo, o ministro Marco Aurélio de Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), criticou o teor da campanha e a irresponsabilidade da MTV. “Voto nulo é um erro. Equivale a avestruz que, numa tempestade de areia, enfia a cabeça no buraco”, comparou Mello.
Gustavo Petta, presidente na União Nacional dos Estudantes (UNE), sustenta que a MTV emite “uma opinião despolitizada, uma campanha ‘deseducativa’ e perigosa para a democracia”. A emissora, segundo Petta, falha ao utilizar o poder que tem “sem dar o direito a outras opiniões, ao contraditório”.
Um dos papéis dos movimentos estudantis e juvenis é incentivar a prática política. À vista disso, as 47 entidades que compõem o Conjuve (Conselho Nacional de Juventude) divulgaram nota à imprensa manifestando “preocupação” com a campanha da MTV. “Segundo nossa percepção, ela condena a priori o processo eleitoral, sem indagar sobre qual é a predisposição de jovens para votar e para participar”, diz o comunicado.
Para rebater a idéia de que a campanha reflete uma inclinação da juventude, o Conjuve enumera dados. Segundo o TSE, houve “aumento de 39%, em relação a 2002, do número de eleitores de 16 e 17 anos, faixa etária em que o voto é facultativo”. A nota do conselho reforça que se trata do “maior crescimento proporcional de eleitores”.
Fonte: Diap, com Agência Informes