Entre os alunos das classes mais altas, o rendimento escolar dos negros é, proporcionalmente, pior do que dos brancos, diferentemente das classes mais baixas. Os dados são da pesquisa “Relações raciais na escola: reprodução de desigualdades em nome da igualdade”, divulgada ontem (6). Exemplos: nas escolas freqüentadas pela classe A, 10,3% dos estudantes brancos e 23,4% dos negros têm notas consideradas “críticas” ou “muito críticas”; já entre os da classe E, as proporções para brancos e negros são, respectivamente, 78,7% e 80,6%. As informações são da Agência Brasil, em texto do repórter José Carlos Mattedi.
Há uma explicação para essa diferença acentuada, na opinião da pesquisadora Mary Garcia Castro, professora da Universidade Católica de Salvador (BA) e uma das coordenadoras do estudo. Segundo ela, nas classes mais altas os negros são minoria nas escolas, aumentando assim o preconceito racial, o que acaba refletindo nas notas. Segundo ela, a maioria dos entrevistados – não negros – disse que o desempenho escolar era “questão de mérito” ou era “problema da família”.
Para provar que a discriminação tem grande influência sobre o rendimento dos alunos, ela cita o exemplo da Escola Comunitária Luiza Mahim, em Salvador, onde o desempenho dos negros é melhor em comparação com os brancos. “Lá se trabalha a questão da raça negra, mas não de maneira inferiorizada. Fala-se dos heróis negros da escravidão, o que ajuda a levantar a auto-estima dos alunos”, observa. Outro detalhe: a maioria das crianças é de cor negra.
O estudo revela, também, que os professores têm preferência por alunos da cor branca, de olhos e cabelos claros. Já os negros têm tratamento diferenciado (não recebem afeto e elogios), são tratados de forma agressiva e costumam ocupar os cantos ou os fundos das salas. Na criança e no adolescente negro, segundo a pesquisa, tais efeitos resultam em: negação da própria identidade racial; partem para a agressão física; fingem que não ligam para a discriminação; recusam relação com alunos racistas.
Para Mary Garcia Castro, algumas medidas podem ser adotadas para tentar atenuar ou diminuir as ações discriminatórias em relação aos negros nas escolas do país. Ela cita a Lei 10.639/03, que obriga o ensino da cultura africana no ensino fundamental, “que seja realmente efetivada”, como também o ensino sobre quilombolas, maior participação da cultura negra nos livros didáticos, etc. “Agora, fundamentalmente, o que mais necessitamos é de uma mudança cultural, de atitude“, finaliza.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) realizaram o estudo, que teve também a secretária do Observatório Ibero-Americano de Violências nas Escolas, Miriam Abramovay, como uma das coordenadoras.
Fonte: Consultor Jurídico