O líder sandinista Daniel Ortega, ex-guerrilheiro, assumiu neste dia 10 de janeiro a presidência da Nicarágua para uma gestão que deverá enfrentar a pobreza que assola o país e que aparentemente estará mais próxima dos governos de esquerda como os de Cuba e Venezuela, mantendo, porém, “respeitosas” relações também com os Estados Unidos.
Ortega, 61 anos, pretende assinar, imediatamente após tomar posse, um grande acordo econômico com o venezuelano Hugo Chávez, que também iniciou neste dia 10 o seu terceiro mandato, cujo primeiro ato foi anunciar a nacionalização das empresas de telefonia e energia, além de declarar a Venezuela uma República Socialista.
O ex-chefe guerrilheiro nicaragüense retorna à presidência depois de 16 anos e três tentativas frustradas, após ter se afastado do ideal revolucionário que o classificou como um dos principais inimigos dos Estados Unidos, em um discurso com pedidos pela paz e reconciliação.
Ortega diz que continua sendo um socialista, mas, ainda que pretenda erradicar a pobreza em seu país, respeitará a propriedade privada. Apesar de sua formação fortemente marxista, Ortega delineou o que será seu próximo governo com bases no apoio da Igreja Católica e de outros opositores que, no passado, durante seus 11 anos no pooder, de 1979 a 1990, ofereceram-lhe grande resistência. “Nosso compromisso é trabalho, paz e reconciliação” – afirmou Ortega antes da posse.
Pesquisas recentes revelaram que 67% dos nicaragüenses têm esperanças de que a gestão de Ortega leve soluções ao país, principalmente em relação aos problemas mais dramáticos, como a fome e o desemprego, que atinge 50% da população.
O país nunca se recuperou do desastre econômico causado por sua guerra interna, que contou com a participação permanente dos Estados Unidos, quando Ortega perdeu o poder para Violeta Chamorro que iniciou aplicações de planos econômicos liberais que, segundo diagnósticos variados, não levaram a soluções. Esse resultado foi o grande responsável pela quebra dos setores liberais e conservadores, que disputaram divididos as eleições de novembro passado, quando Ortega saiu vitorioso com 38% dos votos.
Estiveram presentes à posse 65 delegações, com vários chefes de estado e governo da América, Ásia, Europa e África. Além de Hugo Chávez, que se atrasou devido à sua própria posse em Caracas, assistiram à posse, entre outros, Evo Morales, da Bolívia, Felipe Calderón, do México, Rafael Correa, do Equador e o iraniano Mahmud Ahmadinejad. Luiz Dulci, secretário-geral da presidência, chefiou a delegação brasileira que contou com a presença de Marco Aurélio Garcia que também esteve em Caracas para a posse de Chávez.
O sandinista recebeu os atributos do cargo e falou a grande concentração popular estimada em 300 mil pessoas. Depois, reuniu-se com Chávez para firmar o que sua equipe de colaboradores define como “um amplo e multimilionário acordo” de cooperação econômica com a Venezuela. Em declarações à ANSA, o embaixador venezuelano em Manágua, Miguel Gómez, afirmou que seu governo cooperará com a Nicarágua em proporções semelhantes “ou se possível até maiores” do que as destinadas a Cuba e Bolívia. O pacote inclui a construção de obras de infra-estrutura, como pequenas usinas elétricas e também projetos nas áreas de educação saúde e moradia.
Ortega espera receber de Cuba assessoria e ajuda para iniciar planos para educação e saúde, porém fala continuamente aos empresários locais e estrangeiros sobre os investimentos seguros e rentáveis, promessa impensável durante a revolução sandinista.
Com os Estados Unidos, o ex-guerrilheiro buscará “respeitosas” relações, sem resignar sua decisão de se voltar para o sul. Durante a campanha do ex-guerrilheiro, o governo americano anunciou mais de uma vez que era se opunha à eleição de Ortega. Na cerimônia de posse, os EUA fizeram-se representar por Michael Leavitt, secretário de saúde e serviços humanos que presenteou Ortega com a promessa da construção de um centro para treinamento de trabalhadores da saúde em território nicaragüense.
Entre os sinais conciliadores e promessas de diálogo e entendimento, o ex-presidente Enrique Bolaños, além da faixa presidencial, deixa a Ortega uma “mesa servida”, como ele próprio disse, com uma economia em bom estado, mas com índices de pobreza, fome e desemprego desafiadores, segundo analistas, que precisam de respostas imediatas para que o novo presidente não perca seu crédito inicial.
Fonte: Agência Carta Maior, com informações da ANSA