Custo de vida aumenta mais para os que ganham menos

Por Marcela Cornelli

Além de ganhar menos, a população de baixa renda tem sido a mais prejudicada pelos reajustes nos valores de bens e serviços no município de São Paulo. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos (Dieese), o Índice do Custo de Vida (ICV) subiu, nos últimos 12 meses, 16,24% para as famílias mais pobres – com ganho médio de R$ 377 – e 14,58% para as mais ricas – com renda média de R$ 2.792,90.
Essa diferença ocorre porque a inflação é sentida de maneira distinta por cada família, dependendo do tipo de seus gastos. As mais ricas, por exemplo, mantêm um padrão de consumo mais difuso, pois possuem automóveis, mais eletrodomésticos e planos de saúde. As mais pobres costumam concentrar uma fatia maior de sua renda mensal com alimentos e remédios.

E foram exatamente esses dois grupos de produtos que subiram mais nos últimos 12 meses. De acordo com o Dieese, os preços médios dos alimentos aumentaram 18,89%, e os dos medicamentos, 21,15%. Legumes e carnes, que pertencem ao grupo de produtos in natura e semi-elaborados, subiram 18,19% em média. Já os industrializados avançaram mais, 21,60%. O preço do quilo do frango, por exemplo, aumentou 10,80% apenas em outubro.

Outra variação que indica essa tendência ocorreu com o setor de transportes. Em média, os preços de “transporte coletivo”, mais utilizado pelos pobres, registraram elevação de 21,52%. Já os do item “transporte individual”, que inclui a variação dos preços da gasolina e pesa mais nos gastos dos mais ricos, subiram 15,59% em 12 meses. Nesse mesmo período, a inflação média geral ficou em 16,23%.

“Os preços dos alimentos ainda estão muito caros e há margem para queda”, avalia a economista Cornélia Nogueira Porto, coordenadora do ICV-Dieese. Segundo ela, o pico inflacionário registrado no final de 2002 ainda está embutido nos preços dos produtos.

Os números confirmam a análise. Em 12 meses, os alimentos subiram 18,89% e nos últimos nove meses, 7,55%. Isso significa que os três últimos meses do anos passado são responsáveis por 11,34 pontos percentuais desse aumento.

Naquela época, muitos aproveitaram a alta do dólar gerada pelas turbulências econômicas para justificar elevação de preços. “Mas depois que há o aumento, sempre é mais difícil haver redução”, admite Cornélia.

Estabilidade
O Dieese prevê que os preços ficarão estáveis nos últimos meses do ano. Em outubro, o ICV fechou em 0,47% – taxa 0,79% ponto percentual menor do que a apurada em setembro (1,26%) e bem inferior à verificada em outubro de 2002 (1,13%).

Segundo Cornélia, as variações de preços nos próximos dois meses devem ficar em torno de 0,50%. Com isso, a taxa anual deve fechar o ano próxima a 10%, um índice mais baixo que o de 2002 (12,93%). “A inflação está sob controle. Mesmo que a economia volte a crescer, há bastante estoque de produtos no mercado para segurar um aumento imediato de preços”, diz a economista.

Fonte: Agência Carta Maior