Por Janice Miranda
Começou ontem em Havana, Cuba, o 3º Encontro Hemisférico de luta contra a Alca. Até a próxima sexta-feira, cerca de 1.200 militantes procedentes de todos os cantos da Américas debaterão a tentativa do imperialismo norte-americano de impor aos povos da América Latina um projeto de anexação e recolonização econômica. Várias dezenas de brasileiros viajaram a Havana para se somar à luta comum dos povos do continente.
O 3º Encontro é organizado pela seção cubana da Aliança Social Continental, sendo seu comitê organizador formado por quinze ONGs cubanas. A variada programação inclui uma reunião da Campanha Continental contra a Alca, painéis, conferências e reuniões temáticas – sobre temas como cultura, agricultura, meios de comunicações, etc. – e reuniões setoriais, de mulheres, trabalhadores, jovens e estudantes, camponeses, religiosos e parlamentares. Prestarão depoimentos sobre a Alca diversos especialistas, intelectuais e ativistas políticos de todo o continente. O Encontro poderá contar ainda com a presença do presidente cubano, Fidel Castro.
A realização do 3º Encontro Hemisférico de luta contra a Alca se dá num contexto de importantes avanços na luta de resistência antiimperialista e antineoliberal na América Latina, sobretudo a partir de 2003, com o avanço das lutas no continente e com a posse de novos governos em paises como Brasil e Argentina — que, somados à Venezuela, compartilham da visão dos perigos para o desenvolvimento soberano dos países latino-americanos em caso de implementação da Alca nos termos originais propostos pelos Estados Unidos. Além disso, a revolta popular na Bolívia, enxotando para Miami o corrupto e direitista ex-presidente Lozada, e derrotas eleitorais de Uribe na Colômbia e de Battlle num plebiscito sobre a privatização da empresa petrolífera no Uruguai, dentre outros fatos da conjuntura latino-americana, amplificaram a resistência à Alca. O ano de 2004 por sua vez, começou com a Cúpula das Américas, na cidade mexicana de Monterrey, onde mais uma vez manobras dos EUA e de seus aliados foram derrotadas, diante da firme posição de paises como Venezuela, Argentina e Brasil.
A resistência nacional e popular forçou, na Conferência Ministerial da Alca em Miami, em novembro passado, um recuo pontual e temporário dos Estados Unidos. Assim, a Conferência consagrou a “Alca em dois níveis”: um mínimo consensual possível, a ser assinado pelos 34 países do hemisfério [exceto Cuba] até o final do ano, e um segundo nível de Alcance e compromissos variados — ou “à la carte”, como vem chamando a imprensa — cuja adesão ficará a critério de cada um dos 34 países.
O recuo norte-americano, no entanto, é temporário, pois a anexação econômica da América Latina e o livre acesso dos oligopólios estadunidense às riquezas do continente são partes fundamentais da visão estratégica de domínio do mundo pelo imperialismo norte-americano.
Assim, o êxito do 3º Encontro Hemisférico de luta contra a Alca que começa hoje é fundamental para que os povos latino-americanos não “baixem a guarda”, intensifiquem as mobilizações populares contra a Alca, e respaldem a postura de governos da região que resistam à Alca proposta pelos EUA. Afinal, somente o povo na rua pode rechaçar as pressões intensas pela implementação da Alca, quer diretamente de Washington, quer de setores das burguesias nacionais, prepostos e sócios-menores do imperialismo.
Fonte: Fenajufe / Diário Vermelho