E o que é desconcertante: sobrepujando os filtros ideológicos e as políticas editoriais da chamada grande mídia. Não se tem a pretensão de atingir milhões e milhões de pessoas, privilégio dos que detêm o controle dos meios de comunicação tradicionais.
O que se busca é promover a disseminação de idéias e o máximo de intercâmbios. Poder interagir com quem quer apoiar, criticar, sugerir ou contestar. Como também driblar o monopólio de divulgação, permitindo que forças contra-hegemônicas se expressem com desenvoltura, enquanto atores sociais empenhados em alcançar a plenitude da cidadania e a justiça social.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria, a Anistia Internacional, Confédération Internationale des Syndicats Libres, o Human Rights Watch, o Greenpeace, a Rede de Informações do Terceiro Setor (Rits), o Fórum Nacional pela Democratização dos Meios de Comunicação, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Ordem dos Advogados do Brasil, o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), do México, entidades feministas e partidos políticos inscrevem-se entre as organizações da sociedade civil que decidiram apostar na Web. (E agora, o SINTRAJUSC também.)
O ciberespaço configura-se como um universal indeterminado, sem controles e hierarquias aparentes, sem pontos fixos para a veiculação de informações e saberes. No ciberuniverso, as partes são fragmentos não-totalizáveis, isto é, não sujeitas a um todo uniformizador de linguagens e concentrador de poderes. As relações entre as partes podem reinventar-se, em densidade e em extensão, sem que umas se sobreponham ou subjuguem as demais.
Essa imagem da Internet como um mega-sistema planetário em constante mutação e saudável desordem justifica a sua classificação de Babel cultural do final do milênio. Ela, de fato, assemelha-se a um gigantesco mosaico, no qual elementos paradoxais convivem sem a prevalência de uns sobre os outros. Quem decide o que deve ser destacado e aproveitado é o internauta, por afinidades e conveniências.
No ciberespaço, as contradições não precisam ser silenciadas, porque é da essência mesma do virtual a veiculação simultânea e indefinida de conteúdos, pouco importando as suas procedências, os seus alinhamentos ideológicos, as suas armas de confrontação e fascínio. O princípio básico é disponibilizar, pôr em andamento e execução, tornar dados, imagens e sons acessáveis e acessíveis. Em última análise, são os usuários — individuais ou coletivos — que acabam por determinar os sentidos possíveis para as mensagens.
Os processos não se anulam, eles se acrescentam e se mesclam. Acabamos por acumular dados e experiências que, isoladamente, nenhuma das partes poderia produzir. Marc Guillaume salienta as confluências possíveis entre os padrões clássicos de interação social e as redes eletrônicas: “A rede social preexistente pode melhorar sua eficácia através da rede técnica, mas esta última não pode por si mesma criar uma rede social. Está claro também que o bom uso das mídias comutativas passa pelas complementaridade e hibridações, permitindo combinar automatismos e inteligência humana, rapidez de informação e vagar na assimilação e na formação.”
A conjunção de atividades revela-se crucial numa época marcada por altíssima taxa de expansão de conhecimentos científicos e de renovação incessante de métodos produtivos. O rádio não substituiu o jornal, a TV não acabou com o rádio e a Internet não vai ocupar o lugar de ninguém. Ela é uma mídia de novo tipo, na verdade um viveiro de infomídias interativas, com difusão ultra-rápida, intermitente, extensiva e multidimensional. É, pois, viável combinar os instrumentos de ação político-cultural que o real e o virtual fornecem, sem perder de vista que no território físico, socialmente reconhecido e vivenciado, se tece o imaginário do futuro.
Autor: Dênis de Moraes, doutor em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Imagem e Informação da Universidade Federal Fluminense, do Brasil. Este artigo resulta de pesquisa apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. É colaborador de Sala de Prensa.