Cenário conjuntural para os próximos meses

      Neste momento está difícil fazer qualquer aposta mais categórica acerca do comportamento do nível de atividade econômica nos próximos meses. O consumo tende a perder um pouco de ritmo com o menor crescimento da renda (incluído o aumento do salário mínimo, que praticamente não obteve ganho real) e da própria inflação, que diminui o poder de compra das famílias. Além disso, há fortes indicações de que o crescimento do consumo verificado no último trimestre do ano passado em relação ao trimestre anterior (2,5%), não irá se repetir nos próximos meses, visto que foi uma antecipação de consumo diante das medidas de restrição do crédito tomadas pelo governo e da volta das elevações dos juros básicos da economia.

      Por outro lado, os investimentos devem manter o seu ritmo de crescimento, impulsionados pelos aportes relacionados com a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíadade 2016, e pela confirmação por parte do Ministério da Fazenda da terceira etapa do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que irá disponibilizar mais de R$ 75 bilhões na economia para investimentos, com conseqüências no ritmo de crescimento do PIB.

      Além disso, um fator estrutural de crescimento da demanda interna, o emprego, continua em trajetória de alta. A taxa de desemprego total na Pesquisa de Emprego e Desemprego que o DIEESE realiza nas Regiões Metropolitanas, atingiu 10,4% em janeiro de 2011, com forte diminuição em relação a janeiro de 2010, quando situava-se em 12,4%. No mesmo período o rendimento médio real dos ocupados cresceu 7,8%. Oemprego formal por sua vez continua expandindo e, apesar de uma desaceleração em janeiro, nos últimos 12 meses até janeiro foram gerados acima de 2,5 milhões de empregos de carteira assinada.

     O conjunto das informações da conjuntura aponta para um quadro nos próximos meses em que:

a) as empresas seguem faturando bem, com especificidades setoriais (destaque para os lucros recordes dos bancos em 2010);

b) emprego e a renda continuam em expansão, mas, possivelmente, em um ritmo menor neste ano do que foi em 2010;

c) o nível de atividade desacelerou – Indústria crescendo menos, efeito da alta da taxa de juros, ajuste fiscal e medidas de contenção do crédito formam um conjunto que fará a economia crescer menos neste ano;

d) inflação de alimentos desacelerou a partir de fevereiro, mas a pressão inflacionária deve continuar por algum tempo;

e) taxa Selic seguirá aumentando nos próximos meses.

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*Por José Álvaro de Lima Cardoso (Economista e supervisor técnico do DIEESE)