Lançada na última semana, caravana vai percorrer 20 mil km de asfalto levando noções de cidadania e conscientizando os motoristas sobre este problema, que atinge 30 mil crianças nas rodovias do país. São 230 rotas de exploração sexual infantil no Brasil.
Mais de dois milhões de caminhoneiros circulam pelas rodovias do Brasil, transportando cerca de 75% de toda a movimentação de mercadorias do país. De forma indireta, o setor emprega outros quatro milhões de trabalhadores. Além de viverem sobre rodas, eles são testemunhas de uma das mais cruéis conseqüências da desigualdade social brasileira: a exploração sexual infantil e de adolescentes na beira das estradas.
Calcula-se que, anualmente, 30 mil crianças ligadas de alguma forma à prostituição são transportadas em boléias de caminhões. Passam por caminhos e cidades conhecidas, que permitiram a identificação de 230 rotas de exploração sexual infantil nas diferentes regiões do território nacional.
Para interferir de alguma forma neste ciclo vicioso, que tende a aumentar exponencialmente com a perpetuação do abismo social brasileiro, foi lançada na última semana em São Paulo uma caravana que vai percorrer 20 mil quilômetros de asfalto levando noções de cidadania para aquele que é o principal ator deste processo.
A Caravana Siga Bem Caminhoneiro, que comemora os 10 anos do projeto Siga Bem, criado pela Petrobras, vai organizar cursos e palestras sobre saúde, segurança, legislação de trânsito e centrar esforços para integrar os motoristas na luta contra este tipo de violência.
É preciso uma sinergia nacional para enfrentar este problema. Por isso, é necessário que a população das cidades por onde a caravana passar interaja com ela e ajude as crianças a saírem da prostituição.
A participação dos motoristas nesta causa vem sendo estimulada desde setembro do ano passado, por iniciativa do Projeto Siga Bem Criança, que distribui adesivos e folhetos informativos e também presta esclarecimentos sobre a necessidade de combater a violência sexual contra a infância via rádio e programas na televisão. Em 2003, mais de 20 mil assinaturas de caminhoneiros foram coletadas e entregues ao presidente Lula, em sinal de apoio da categoria a políticas públicas que fossem na contra-mão desta lógica. Cerca de 500 caminhões e mais de 800 caminhoneiros também participaram de uma carreata no centro de Brasília para reafirmar seu compromisso. A caravana lançada agora é uma das ações resultantes dessa mobilização. Serão 100 dias de eventos, que devem atingir diretamente 350 mil pessoas. Já o Projeto Siga Bem Criança, no qual já foram investidos 4,1 milhões de reais, tem a previsão de beneficiar 6.500 meninos e meninas até o final de 2006.
Ainda não foram medidos os resultados concretos do projeto. Mas foi possível perceber, por exemplo, que o perfil do caminhoneiro melhorou. Há 10 anos, as peças publicitárias tinham uma abordagem emocional do motorista, de apelo a uma vida de festas. O Siga Bem fez justamente o contrário: trabalhou o lado profissional do caminhoneiro. Agora é preciso garantir seu engajamento. Trata-se de um processo de mobilização positivo.
Outra ação incentivada aos caminhoneiros é a denúncia de situações de exploração sexual infantil via telefone. De maio de 2003 até julho deste ano, o Disque-Denúncia, coordenado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e que funciona pelo número 0800-990500, atendeu 6.400 ligações com informações de casos de exploração e abuso sexual contra crianças e adolescentes em todo o país. São casos de abuso extra e inter-familiar, de exploração sexual comercial e de maus tratos. A partir das denúncias, é possível mapear os locais e tipos de risco, confirmando e atualizando as rotas já conhecidas, e encaminhar essas informações para ação da Justiça e dos Conselhos Tutelares. (Fonte: Carta Maior)