As mulheres no Brasil estão longe de conseguir obter as mesmas condições e possibilidades econômicas, sociais e mesmo políticas que desfrutam os homens. Um estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial, com sede em Genebra, concluiu que o Brasil tem um dos piores índices de desigualdade entre homens e mulheres.
Dos 58 países avaliados, o País ficou apenas na 51ª posição. Segundo o estudo, as mulheres no Brasil ganham menos da metade de um homem para realizar o mesmo trabalho, a taxa de desemprego entre elas é uma vez e meia superior à dos homens, enquanto a taxa de atividade econômica é apenas metade da registrada pelos homens brasileiros.
No ranking estabelecido pelo Fórum, a liderança ficou para a Suécia, seguida pela Noruega, Islândia e Dinamarca. Segundo o estudo, esses países são caracterizados por sociedades liberais, com alto índice de transparência no governo e amplo acesso da mulher às oportunidades de trabalho, na política e à educação.
Em uma escala com uma pontuação variando de um a sete, os suecos ficaram com 5,53 pontos, representando alto grau de igualdade entre os sexos. Ainda assim, o relatório concluiu que até hoje nenhum país conseguiu atingir uma situação de eliminação das diferenças entre homens e mulheres. Para o estudo, essa é uma “realidade perturbadora”.
Já o Brasil, com apenas 3,29 pontos, foi superado no ranking por praticamente todos os principais países latino-americanos, como Costa Rica, Colômbia, Peru, Chile e Venezuela. As mulheres argentinas também gozam de uma situação bem mais equilibrada na sociedade que as mulheres brasileiras. Países como Bangladesh, um dos locais mais pobres do mundo, conseguem dar condições mais igualitárias às mulheres do que o Brasil.
O estudo estabeleceu o ranking a partir de cinco critérios: a participação de mulheres em cargos decisórios, inclusive na política, a participação econômica das mulheres, ou seja, a possibilidade de obter um mesmo salário por um mesmo trabalho realizado por um homem, as oportunidades econômicas como acesso a empregos, além da possbilidade de acesso à educação e aos serviços de saúde.
No caso da América Latina, a situação não é boa. A região é a que apresenta os piores índices em termos de participação econômica e serviços de saúde. Os únicos casos positivos são as colocações de Brasil e Chile no que se refere às oportunidades econômicas dadas às mulheres. Nesse crítério, o Brasil está na 21ª posição, inclusive melhor colocado que Estados Unidos. Os norte-americanos ficaram apenas na 17ª posição na classificação geral, superados por muitos países europeus. A explicação seria a lei e as condições da licença-maternidade nos Estados Unidos.
Na avaliação sobre o Brasil, a licença-maternidade é considerada como algo positivo pelos autores do estudo. Mas o Fórum admite que esse benefício é um fator que tem impedido em muitos casos a contratação de mulheres.
A posição do Brasil no critério de oportunidades econômicas não consegue, portanto, se refletir em salários mais elevados para os mulheres. Em termos de participação econômica, o Brasil ocupa apenas a 46ª posição, ainda que 62% do total de profissionais no País sejam mulheres.
Segundo o estudo, os maior problemas no Brasil são mesmo a baixa participação de mulheres em cargos de decisão e na política, a falta de acesso à saúde e educação. Quanto à participação política ou em cargos de decisão, o Brasil tem o segundo pior índice e ocupa a 57ª posição. Segundo o ranking, somente a Jordânia apresenta dados mais preocupantes. O estudo aponta que esse problema é identificado em toda a América Latina, onde apenas 18,6% dos congressistas são mulheres. Nos países nórdicos, essa taxa chega a 39,7%.
No critério relacionado ao acesso de meninas às escolas, o Brasil ficou na 27ª posição, enquanto a Argentina conseguiu a terceira colocação. Para o economista-chefe e diretor do Programa de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, Augusto Lopez-Claros, se o Brasil quiser superar as desigualdes de sexos no País, terá de concentrar esforços na educação de meninas.
Já no critério sobre acesso à saúde, o Brasil ficou apenas na 53ª posição, superado por México, Turquia e Egito. Para o ministro da Sáude, Humberto Costa, o governo está fazendo “importante esforço” nessa área, mas admite que a mortalidade materna, por exemplo, continua alta.
“Estamos investindo em municípios onde há maior incidência desse problema. 95% dos partos no Brasil ocorrem em ambientes hospitalares, o que significa que há uma falha séria na assistência”, reconheceu Costa.
Para Lopez-Claros, não se pode dizer que a desigualdade entre homens e mulheres no Brasil seja justificada por uma questão cultural. “A cultura podemos mudar e somente conseguiremos fazer isso com a educação”, disse. Segundo ele, o Brasil deve seguir o modelo dos países nórdicos. “Esse é um modelo que pode ser usado em qualquer país, e não apenas nas economias ricas”, concluiu.
Fonte: Tribuna da Imprensa