Agronegócio é o principal entrave à Reforma Agrária, afirma MST

O MST divulgou nesta quinta-feira (21) uma carta contendo um balanço político do movimento do seu 5º Congresso, realizado na semana passada, em Brasília. O balanço destacou o agronegócio como o principal entrave a Reforma Agrária e apontou o Programa Agrário do MST, aprovado no congresso, como o modelo a se seguido de reforma no país. A carta do 5º Congresso, bem como o reforço da mística, da unidade e dos símbolos da luta do MST também foram identificados como marcas do maior congresso da história do movimento, reunindo cerca de 18 mil trabalhadores em terra de 24 estados da federação. Leia abaixo o balanço na íntegra.

“Estimados amigos e amigas do MST,
Foram dois anos de estudos e debates para que chegássemos ao nosso 5º Congresso Nacional. Durante cinco dias, estudamos a situação da agricultura, a conjuntura política e os desafios do povo brasileiro para construir uma nação socialmente justa e soberana. Foram também momentos de fortalecer nossa mística, de relembrarmos os companheiros e as companheiras que não puderam estar conosco, levados pela truculência do latifúndio e do agronegócio, e, de confraternizarmos e celebrarmos nossas vitórias.
Além de definir nossas linhas políticas e tarefas para os próximos anos, o 5º Congresso Nacional também aprovou nosso Programa Agrário, um conjunto de medidas que consideramos necessárias para transformar a estrutura fundiária e garantir uma agricultura que permita a segurança e a soberania alimentar. Referendamos também a Carta-Proposta entregue ao Presidente Lula no dia 17 de abril e aprovamos a Carta do 5º Congresso, que reúne nossa tática e nossas prioridades de luta. Desde a elaboração do Programa, nas lutas e enfrentamentos que travamos no último período, compreendemos que é impossível lutar por Reforma Agrária, sem combater o modelo econômico que se impõe sobre a sociedade.
Da forma como o campo está estruturado hoje, não há mais lugar para o camponês. O campo se transformou em um território de produção de matéria prima para a exportação, produção essa, fundamentada no monocultivo em grande escala, no uso intensivo de máquinas e agrotóxicos – que expulsam mão-de-obra e agridem o meio ambiente – e, bancada pelo capital financeiro internacional. O agronegócio, como ficou conhecido esse modelo, é hoje o grande entrave à Reforma Agrária defendida por nós do MST e pelos movimentos sociais da Via Campesina.
Para lutar contra esse modelo, é preciso unir forças. Nesse sentido, reafirmamos que não é possível construir um futuro digno nas cidades sem uma Reforma Agrária que produza alimentos sadios e de qualidade para a população urbana, interrompa e reverta o êxodo rural e fortaleça o mercado interno. Não apenas insistimos na aliança entre trabalhadores rurais e urbanos para a realização da Reforma Agrária, como sabemos que sem esta unidade não será possível construir um Projeto Popular para o Brasil.
No tema do nosso 5º Congresso, ‘Reforma Agrária: por Justiça Social e Soberania Popular’, esta explícito o sonho e a luta daqueles que acreditam que só poderá haver justiça social se houver uma ampla Reforma Agrária, que possibilite a democratização do acesso à terra e a eliminação da pobreza do campo. Além disso, para que um povo possa se reconhecer soberano, ele deve exercer o controle sobre sua produção, de alimentos e de energia, para que esses possam cumprir suas funções sociais, em benefício do próprio povo – e, não para gerar lucros a poucos acionistas dos grandes bancos e empresas transnacionais.
Reafirmamos também a necessidade de investir em educação e em comunicação como instrumentos na luta contra-hegemônica, e, de ampliar a defesa de um desenvolvimento sustentável, capaz de assegurar a sobrevivência do meio ambiente e daqueles que nele habitam. Acreditamos que o povo brasileiro possa decidir os rumos de seu destino. Opinar, debater e decidir sobre as questões que afetam sua vida e das futuras gerações. Nesse sentido, o 5º Congresso foi importante para a luta dos trabalhadores brasileiros, não apenas pelo tamanho – foram quase 18 mil delegados de 24 estados brasileiros – mas também pela força do debate, que certamente, nos impulsiona.
Sabemos que o caminho é árduo. Mas não nos faltam motivações e exemplos vivos. Como Elizabeth Teixeira, líder das Ligas Camponesas, que esteve conosco durante o Congresso pra trazer sua experiência e mística. Ou Seu Luiz Beltrame, aos 100 anos de idade, exemplo de participação e primeiro nas fileiras de duas marchas nacionais. E muitos, muitos, amigos que estiveram conosco e deixaram palavras e gestos de solidariedade e comprometimento. Como o poeta Thiago de Mello, que nos ensinou em seus versos:

“A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.”

Boa luta para todos nós,
Direção Nacional do MST”

Fonte: Portal Vermelho