Por Marcela Cornelli
O vice-ministro das Relações Exteriores da Argentina, Martin Redrado, informou na quarta-feira (10/3) que a reunião da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) agendada para a próxima semana foi adiada para 22 e 23 de abril pela falta de progresso nas negociações.
“Já que não chegamos a um acordo, foi decidido suspender o encontro em Puebla (México), agendado para a próxima semana”, disse Redrado a repórteres no encerramento de uma reunião informal de importantes autoridades de comércio em Buenos Aires.
Negociadores de 34 países do Hemisfério Norte devem se reunir novamente na Argentina nos dias 31 de março e 1 de abril para mais conversações informais, acrescentou Redrado. “Ainda não existe acordo”, afirmou. “Nós queremos estar certos de que os subsídios serão eliminados e que não haverá possibilidade de serem reintroduzidos.”
Os negociadores do Mercosul ainda estão comprometidos com o prazo de 1 de janeiro de 2005 para chegar a um acordo, disse Redrado, e o adiamento da reunião de Puebla não necessariamente empurra o calendário das negociações.
Os negociadores da Alca entraram em um impasse no mês passado em um encontro prévio em Puebla, quando os participantes não chegaram a um acordo amplo sobre a estrutura das negociações.
A Aliança Social Continental e a Campanha Brasileira contra a Alca divulgaram nota à imprensa sobre o impasse nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas.
Leia a íntegra da nota:
“O adiamento hoje (10/3), em Buenos Aires, da conclusão da XVII Reunião do Comitê de Negociações Comerciais da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), marcada para a próxima semana depois de ter sido iniciada e suspensa na primeira semana de fevereiro deste ano, mostra que permanece o quadro de impasse entre as principais posições postas sobre a mesa de negociação até agora, e que é cada vez mais difícil contorná-lo na atual conjuntura política.
A raiz do impasse segue sendo a pressão do grupo de países capitaneados pelos Estados Unidos para que o Mercosul aceite fazer concessões reais em temas como serviços, investimentos, propriedade intelectual e compras governamentais, em troca de concessões virtuais nos temas de acesso a mercados, e particularmente agricultura. Virtuais porque, na prática, e até em função do calendário eleitoral norte-americano, os EUA não estão dispostos a fazer concessões reais neste momento.
O impasse por si só não pode ser considerado uma vitória, uma vez que ele não significa o fim das negociações. Mas o novo adiamento da conclusão deste CNC de Puebla prova que não apenas os movimentos sociais têm feito avaliações corretas a respeito dos riscos de um acordo como a Alca, como também a pressão exercida por eles tem resultado em uma desconstrução do plano norte-americano de liberalização econômica.
Entretanto, a sociedade civil em todo o continente deve seguir pressionando os governos, que deveriam representar o interesse do conjunto da população e não fazer concessões que beneficiem os negócios das grandes corporações. Mais uma vez, é preciso estar atento às pressões para fazer as negociações andarem no sentido e ritmo proposto pelo bloco encabeçado pelos EUA, pois isto significa abdicar da possibilidade de um desenvolvimento sustentado e soberano, do crescimento em longo prazo, dos empregos e da distribuição de renda, em troca do atendimento aos desejos (e a garantia de ganhos) de uns poucos setores da sociedade.
Convocamos todas as organizações da sociedade civil no continente a continuar exercendo a pressão que até agora tem se mostrado eficiente, denunciando os termos da negociação em curso e impedindo a conclusão da Alca.”
Fonte: Portal Vermelho