No dia da abertura do Fórum Mundial de Educação, em Porto Alegre, jornal Zero Hora prefere destacar na capa a final da Liga de Futsal. Mas no mesmo dia, editorial de ZH diz que saída para problema da violência passa pela educação. Incoerência?
“Os jovens são resultantes da educação que receberam ou não dos adultos. Seria um equívoco, portanto, simplesmente atribuir a eles a responsabilidade pelo aumento da violência, que se generaliza cada vez mais na sociedade da qual fazem parte”. Esse é um trecho do editorial do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, no dia da abertura da terceira edição do Fórum Mundial de Educação, na capital gaúcha. O editorial trata da importância do evento que reunirá mais de 20 mil pessoas de 34 países em Porto Alegre? A resposta é não.
Intitulado “Violência juvenil”, o texto traça um paralelo entre o aumento da violência no Rio Grande do Sul e a ausência de condições dignas para que os jovens possam ser preservados da criminalidade. Qual o problema? A abertura de um dos mais importantes eventos educacionais no mundo nesta quarta (28) – fato reconhecido pela Organização das Nações Unidas, apenas para citar um exemplo – merece por parte de Zero Hora uma franciscana nota em uma coluna e cinco parágrafos em uma escondida página interna. As escolhas editoriais feitas pelo jornal no dia da abertura do FME dão o que pensar.
O perfil dos capitães dos times de Futebol de Salão que disputam a final da Liga Nacional merece uma reportagem especial com chamada na capa. Um é surfista e o outro é escritor, informa o jornal. Idem para a nova contratação do Grêmio, o zagueiro Capone, que vem de Israel para tentar salvar o tricolor gaúcho de uma nova ameaça de rebaixamento. O anúncio de que a Expointer (feira agropecuária que ocorre anualmente no RS) terá patrocínio privado merece igualmente destaque de capa. O fato de Lula ter desfilado em um Rolls- Royce no Gabão também ganha espaço com uma grande foto na contra-capa, com um óbvio peso de editorial. A convenção do Partido Democrata nos EUA é outra atração da edição de ZH. Já o início dos debates sobre a situação da educação no mundo merece cinco parágrafos em uma página interna, de número par.
Qual é mesmo a responsabilidade da mídia? Nada contra os heróis do futebol de salão, contra os bois e cavalos da Expointer ou contra a angústia dos torcedores gremistas em função da ameaça de rebaixamento. Tudo contra a opção editorial de desprezar a importância de um debate estratégico para tentar superar os graves problemas sociais que afetam diretamente a vida de milhões de pessoas no mundo. (Fonte: Diário Vermelho)