A crescente taxa de homicídio no Brasil contra o povo negro é assustador, estudos revelam que mais de 272.422 negros foram assassinados num período de oito anos (2002 e 2010). Em todo o país os assassinatos de negros é 132% maior do que brancos, apenas em 2010 foram 34.983 assassinatos contra os negros.
Comparada à taxa de homicídios de brancos, a pesquisa revela que foram 15,5 por 100 mil, ou seja, em todo o país, enquanto o número de homicídio de jovens brancos cai 33%, o de jovens negros cresce 23,4%.
Os estudos de autoria do pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, foram realizados em parceria entre o Centro Brasileiro de Estudos Latino Americanos (Cebela) e a Secretaria de Políticas da Promoção da Igualdade Racial. Os dados da pesquisa feita pelo Mapa da Violência 2010 “A Cor dos Homicídios no Brasil”, mostra que no Brasil a discriminação e a violência racial são ainda aterrorizadoras.
Estados mais violentos
A pesquisa revela que os estados do país com maior incidência de assassinatos de negros são: Alagoas, Espírito Santo, Pernambuco, Mato Grosso, Distrito Federal, Pará, Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte. Na Paraíba, o assassinato de negros é 1.824% maior: 60,5 casos por 100 mil habitantes.
No estado de São Paulo, os números ainda não consideram os assassinatos e as letalidades, impulsionadas no conflito entre a Polícia Militar e o crime organizado neste último período. No entanto, o total de negros assassinados é 32% maior do que o de brancos: 12,2, contra 21,5.
Para o pesquisador, “os níveis atuais de vitimização negra já são intoleráveis, mas se nada for feito de forma imediata e drástica, a vitimização negra no país poderá chegar a patamares inadmissíveis pela humanidade”, avalia.
Pelo fim da militarização na esfera pública
Para o militante do Tribunal Popular, Givanildo Manoel “Giva”, a política de crime contra o povo negro é de responsabilidade do governo do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin. Ele aponta a política adotada pelo Estado como “preventiva contra o terror”, nos mesmos moldes adotados pelo então ex-presidente dos EUA, W. Bush.
Dentro desta “iniciativa” preventiva, o militante nos revela que a gestão tucana elevou o encarceramento a 300%, em todo o estado. “Pela lógica preventiva, qualquer ação pode ser considerada crime, logo (o Estado) vai prender”, afirma.
Outro elemento apontado, como justificativa do Estado, para o extermínio do povo pobre e negro é o combate às drogas. Nestes casos, revela Giva, enquadra-se a maior violação aos direitos humanos, apontando o governador do PSDB como o principal responsável pelo crime contra o povo pobre e negro.
Sobre o crime organizado, Primeiro Comando da Capital – PCC, o militante também aponta Alckmin como responsável pelas mortes entre civis, policiais militares e bandidos. “Essa crise poderia ter sido resolvida em 2006, quando os líderes do crime organizado reivindicaram do Estado o respeito à Lei de Execução Penal e a Política Carcerária, mas Alckmin, simplesmente ignorou, impulsionando essa onda de violência onde o próprio estado não consegue mais dar uma resposta”, disse Giva.
O militante defende o fim da militarização nas esferas públicas, como também o fim da expansão da “Operação Delegada”. Segundo Giva, hoje o estado conta com 4 mil policiais para cumprir as tarefas desta operação que trata da higienização da cidade como: desocupação da cracolândia e remoção “criminosa” de moradores em favelas localizadas em regiões de alta valorização imobiliária.
“O que está em jogo é o crescente processo de militarização na política do Estado, onde postos chaves estão sendo ocupados por estes setores. A Câmara de Vereadores São Paulo, revela bem esta situação: oito vereadores foram eleitos e são ligados de forma direta ou indireta a este regime”, afirma.
O debate e ações sociais estão sendo substituídos pela ação policial. “Em 10 anos morreram meio milhão de pessoas com mortes violentas, além disso, 40% do encarceramento são justificados pelo combate contra as drogas, logo, o que vemos é uma guerra aberta do Estado, através da Polícia Militar, contra o povo pobre e negro no país”, considera Giva.