Por Janice Miranda
Leia abaixo matéria divulgada no sítio do Sitraemg sobre as experiências dos colegas aposentados do Judiciário Federal de Minas Gerais.
No próximo dia 24, o Brasil comemora o Dia dos Aposentados. O Trabalhador Judiciário, que, rotineiramente, trata deste importante segmento de nossa categoria, abre, nesta edição, espaço especial para apresentar as histórias, opiniões e sentimentos de três aposentados. Eles são exemplos de uma categoria que não assume a alcunha de “inativa” e segue, com vigor, lutando por seus direitos e por um país melhor.
Para João Evangelista (Joãozinho), 55 anos, aposentar representou a “liberdade” que precisava para investir mais tempo em conhecimento. O ex-servidor do TRT, aposentado há 10 anos, conta alguns de seus projetos: estudar violão e teclado, cuidar de um pequeno sítio próximo a Sete Lagoas (Norte de Belo Horizonte) e realizar atividades físicas regulares. No entanto, é na atuação sindical que ele se sente útil à sociedade. Atualmente, o aposentado-sindicalista é membro do Conselho Fiscal do SITRAEMG.
Afreu Batista, 69 anos, há 14 aposentado pelo TRE, é outro que encontrou no Sindicato espaço para se manter ativo. “Para algumas pessoas, aposentadoria é período de descanso, para outros, é continuidade do trabalho. Para mim, representa lutar pela categoria e participar de tudo que o Sindicato oferece, como congressos, cursos, plenárias”, avalia.
A ex-servidora da Justiça Federal, Maria das Graças Henriques Silva da Rocha, 51, há 6 anos aposentada, teve uma trajetória diferente. “Obrigada” a aposentar proporcionalmente, diante das ameaças impostas pelo governo FHC (leia-se Emenda Constitucional 20), Maria das Graças não se sentia preparada para entrar na “inatividade”. O tempo vago que se abriu foi preenchido, então, com cursos e pós-graduação ligados ao Direito. “Quando me aposentei, eu me senti como se minha vida tivesse sido dividida ao meio. Na época, refleti: daqui para frente será mais uma etapa”, lembra.
O que, nos primeiros quatro anos, era um passatempo, passou a ter grande utilidade quando, há um ano, ela foi convidada a fazer um trabalho na Assojaf (Associação dos Oficiais de Justiça Avaliadores Federais de Minas Gerais). Deste contato com a associação, surgiu a oportunidade de, hoje, ser a presidente da entidade. “Minha preparação naquele período acabou me dando uma importante base para a minha atuação na Assojaf. Assim, aqueles cursos que foram feitos sem objetivos práticos se tornaram úteis para eu defender os interesses dos servidores”.
Rompimento
Desvincular-se da rotina de trabalho para alguns aposentados é um processo dolorido. Afreu conta que durante 12 meses, após se aposentar, continuou indo à repartição onde trabalhava. “Demorou cair a ficha. Até hoje gosto da repartição [setor de informática do TRE] e mantenho um vínculo de grande estreitamento”.
Joãozinho, por sua vez, dá a dica de que o importante é o aposentado se manter ocupado com atividades de seu interesse. Para isso, Joãozinho reconhece a importância do SITRAEMG em sua adaptação à vida de aposentado. “Quando me aposentei, já estava bem envolvido nas atividades sindicais. Com a aposentadoria, pude cooperar mais com a entidade em viagens ao interior e presenças em congressos e palestras de interesse da categoria”.
Afreu também tem um conselho semelhante ao do colega do TRT: “o aposentado não pode se entregar a uma vida de come e dorme, deve sempre ter uma atividade, fazer com que a vida continue”.
Aprender
O aprendizado é uma preocupação básica dos três entrevistados. Maria das Graças cita os vários cursos que realizou, depois de aposentada, para se atualizar nas questões do Direito. Joãozinho diz que tem aprendido muito com sua atuação sindical. O conselheiro fiscal do SITRAEMG adquiriu conhecimento político e jurídico que lhe confere “respeito” junto aos colegas. “Hoje sou mais valorizado nos tribunais do que na época de ativo”.
“Servir ao sindicato é muito gratificante. A gente tem a oportunidade de manter contatos com pessoas de outras cidades, estados e, até, países. Isso nos oferece larga cultura, ensinamentos que nos qualificam a ajudar, de maneira melhor, toda a categoria”, comenta Afreu. “O negócio não é parar. O aposentado tem de somar novos valores e conhecimentos, para sua auto-realização e para se sentir valorizado”, diz Joãozinho.
Problemas Joãozinho acredita que o único problema que o aposentado sofre é o preconceito social . “Os aposentados da iniciativa privada são tidos como coitados, os do serviço público, privilegiados. Ambos sofrem com isso. No sentido geral, a sociedade vê o aposentado como inútil e perto da morte”.
Para Maria das Graças, o aposentado brasileiro, sobretudo do serviço público, “vive assustado”. “A gente não tem segurança de nada. A cada governo há medidas que prejudicam os servidores aposentados”. A presidente da Assojaf cita o caso da Reforma da Previdência, que impingiu a contribuição previdenciária aos servidores inativos. “Se houvesse esta tranqüilidade, a aposentadoria seria uma boa solução para o final da vida da gente”, completa Maria das Graças. Afreu é outro que concorda com a afirmação de que os aposentados do serviço público são perseguidos pelos governos.
Bem-estar
De modo geral, Maria das Graças diz que não tem sentido nenhum “desprestígio” por ser aposentada. Ela reclama apenas do fato de os tribunais não tratarem igualitariamente ativos e inativos em questões administrativas. “Somos os últimos a saber das novidades. Nos pagamentos de direitos, os ativos sempre ganham um percentual maior do que a gente”.
Afreu é outro que se sente bem na condição de aposentado, sobretudo, diz, porque trabalhou no Poder Judiciário. “Realmente, sinto-me respeitado. Pelo fato de eu ter trabalhado no TRE as pessoas me respeitam mais, inclusive no modo de falar”.
Joãozinho também tem uma visão otimista sobre o aposentado. “A sociedade começa a ter consciência sobre uma velhice saudável e produtiva”, diz.
Fonte: Sitraemg (O Trabalhador Judiciário – Texto Brune Montalvão)