Por Janice Miranda
Começa hoje em Mumbai a quarta edição do Fórum Social Mundial. A metrópole da costa ocidental da Península Indiana, com 20 milhões de habitantes na sua mancha urbana, receberá até o dia 21 de janeiro 75 mil pessoas vindas de toda a Índia e de 130 outros países — cobrindo todo o diversificado espectro ideológico que se opõe à globalização neoliberal e as incontáveis ramificações temáticas dos movimentos sociais, pacifistas e ambientalistas, entre muitos outros.
Frutos da mudança
Em boa parte o avanço esperado se deve à mudança da cidade-sede, do país-sede e do continente-sede — quando as três edições anteriores, assim como a próxima, tiveram como palco a capital gaúcha. Os participantes ocidentais do 4º FSM encontrarão em Mumbai nos próximos seis dias pedaços inteiros e gigantescos do “outro mundo possível” que apenas modestamente participaram das edições porto-alegrenses do Fórum. Só a Índia, país anfitrião, é todo um universo fervilhante e pouco conhecido das vertentes ocidentais co movimento social.
Ainda ontem, um informe da ONU anunciava que foi a índia, ao lado da China, quem sustentou o crescimento do PIB mundial no ano passado: segundo as Nações Unidas, o PIB indiano cresceu 6,1% em 2003, após um aumento de 4,5% em 2002 e com previsão de 6,2% 3m 2004 (na China os índices foram de 8,0% em 2002 e 8,5% em 2003). Mas é também um desenvolvimento prenhe de contradições e conflitos. Não faz muitos meses o país estava às portas de uma guerra talvez nuclear com o Paquistão, em torno do território de Caxemira. As oito maiores centrais sindicais indianas estão convocando uma greve geral nacional para 24 de fevereiro, “em defesa do direito de greve e também contra a política antipopular e antioperária do governo Vajpayee”. Os sindicatos denunciam um desemprego galopante, uma pobreza crescente, privatizações irresponsáveis e uma onda de fechamento de indústrias.
Renovação das estrelas
Um artigo de Kalpana Sharma, no jornal indiano The Hindu, descreve que o FSM será freqüentado por “uma galáxia de oradores em suas plenárias e painéis de debates, abertos e fechados”. A “galáxia”, segundo os destaques de Sharma, inclui o Prêmio Nobel da Paz iraniano Shirin Ebadi, a ex-comissária de Direitos Humanos da ONU Mary Robinson, irlandesa (que antecedeu no cargo o brasileiro Vieira de Mello), o primeiro presidente da Argélia, Ahmed Ben Bella, o líder camponês da França José Bové, a ativista paquistanesa de direitos humanos Asma Jehangir, o diretor-geral da OIT Juan Somavia e o Nobel de Economia norte-americano Joseph Stiglitz, a jovem escritora indiana Arundhati Roy. E a enumeração já atesta uma singular diversificação em confronto com as edições anteriores, pois há uma radical renovação das estrelas do FSM.
O esquema segue o esquema geral que prosperou em Porto Alegre: serão 20 conferências, em grandes auditórios, e 800 seminários, mesas-redondas, painéis e oficinas, exibições artísticas, exibições de filmes e vídeos, programas culturais, compondo um mosaico, mas também um espaço integrado de articulação e reflexão. Só os grupos de teatro somam mais de uma centena, indianos e de outros 30 países. Entre os shows musicais, o The Hindu cita, ao lado da banda de rock paquistanesa Junoon, “o cantor brasileiro e atual ministro da Cultura, Gilberto Gil”. Haverá também o já consagrado Acampamento Intercontinental da Juventude.
Toda a “galáxia” será abrigada nas amplas dependências da Nesco e Goregaon, um subúrbio na zona norte de Mumbai. O local, acostumado a servir a feiras comerciais, foi adaptado para servir aos profetas de que “Um novo mundo é possível” (o lema também “pegou” e permanece). Enormes auditórios poderão abrigar mais de 10 mil pessoas, esquemas de tradução simultânea foram montados e o centro de imprensa está dimensionado para mais de 2 mil jornalistas indianos e estrangeiros,
Dia 21 , protesto anti-ocupação do Iraque
Quarta-feira, dia do encerramento, está programada uma grande manifestação, na área de uma antiga fortaleza no coração de Mumbai. O tema central é a denúncia da ocupação norte-americana no Iraque. “Nossa ênfase será que os EUA têm de sair do Iraque”, afirma A. D. Golandaz, membro do comitê organizador.
Um episódio cria uma rachadura na aura duramente construída até hoje pelo FSM: colado ao evento, “literalmente do outro lado da rua”, segundo Sharma, ocorre um outro fórum, fruto de uma cisão. É a “Resistência Mumbai 2004 Contra a Globalização Imperialista e a Guerra”, promovida por organizações que não se sentiram contempladas e resolveram promover um evento paralelo.
Fonte: Diário Vermelho