Por Angela Albino
Coordenadora Geral do SINTRAJUSC
Hoje é o dia que veremos repetidas vezes na TV a imagem do avião se chocando com as Torres Gêmeas, depois outro e depois o desabamento do WTC, o símbolo do Poder Econômico dos EUA. Hoje veremos novamente o Pentágono destruído, símbolo do Poder Militar daquele país. Naquele dia, cerca de 3.500 pessoas morreram e o mundo foi sacudido pelo horror e por um estranho sentimento de espetacularização do terror.
Outro 11 de setembro, no entanto, precisa ser lembrado e poucas emissoras de TV o mostrarão (se é que alguma o fará). Foi no dia 11 de setembro de 1973 que os militares liderados por Pinochet atacaram o Palacio de la Moneda em Santiago do Chile, completando hoje trinta anos da morte de Salvador Allende. Mas naquele dia muitos outros foram mortos. O sangrento golpe militar deixou um saldo de 15.000 mortos, entre eles homens, mulheres e crianças. Fez mais de 30.000 prisões, dezenas de torturados e mais de 200.000 pessoas foram demitidas de seus empregos. Naquele dia o estádio de futebol de Santiago foi usado como campo de concentração para a prisão de milhares de chilenos. Coincidência de datas? Com certeza, não. A cruel ironia é que foi exatamente a política externa dos Estados Unidos a responsável pelo golpe em 11 de setembro de 1973 que, através da CIA, treinou e armou Pinochet, o sanguinário. Aliás, a mesma política os EUA utilizaram no Afeganistão na década de 70, quando também treinaram e armaram Osama Bin Laden e sua Al Qaeda para que tomassem o poder, mesmo Bin Laden que depois foi apontado como responsável pelos ataques de 11 de setembro de 2001. E por isso o 11 de setembro é um dia trágico para a humanidade. Não por causa das Torres Gêmeas (que veremos centenas de vezes hoje), sequer pelo Palacio de la Moneda (que provavelmente não veremos), mas por estarmos consagrando a mais profana das mentiras: a de que vidas humanas valem mais num lugar do que em outro.
Assim, o mundo se comove com os 3.500 que morreram nesta data a dois anos atrás, mas cerra os olhos e a memória para os mortos em 1973 e considera mero desdobramento da guerra os mortos nas recentes invasões norte-americanas no Afeganistão e no Iraque. Por que 3.500 estado-unidenses valem mais que 10.000 chilenos, afegãos ou iraquianos? A persistirmos nesta mentira, companheiros, a pergunta que logo teremos que nos fazer no aconchego inquietante do travesseiro é, afinal, quanto valerá a vida no Brasil?