Por Janice Miranda
O Iraque tem armas químicas e de destruição em massa, que o regime de Saddam Hussein esconde dos inspetores da ONU. Essa foi a justificativa dada pelas autoridades americanas e britânicas para declararem guerra ao Iraque. No entanto, após 276 dias de ocupação, nenhuma arma química e de destruição de massa foi encontrada pelos soldados que invadiram o país. E as buscas começam a se findar.
Ontem, os Estados Unidos fizeram um recuo estratégico que está sendo visto como um sinal de que estão reconhecendo que o líder iraquiano falava a verdade. Cerca de 400 técnicos de uma equipe norte-americana especializada em busca de armas de destruição em massa abandonaram o país. A informação é do jornal New York Times.
Segundo um responsável norte-americano, os peritos apenas recolheram material que “valia a pena recolher”. A missão tinha o objetivo de procurar depósitos de armas e outras instalações de lançamento de mísseis que pudessem ser utilizados com as armas proibidas, especificou ao jornal um outro responsável do Departamento de Defesa norte-americano.
No entanto, o Governo de Washington manterá em território iraquiano o Grupo de Reconhecimento, composto por 1,4 mil especialistas, que se dedica exclusivamente à busca das supostas armas “a um custo de centenas de milhões de dólares”, afirmou o jornal.
Mentiras sucessivas
No mesmo dia, a Fundação Carnegie pela Paz Internacional, um dos mais influentes centro de estudos internacionais dos EUA, tornou público um relatório que acusa Washington de ter “sistematicamente” deformado e exagerado a ameaça das supostas armas de destruição em massa iraquianas. Também afirma que o governo norte-americano fez “uma apresentação inexata” dos esforços dos inspetores da ONU que atuaram no Iraque antes do início do conflito, afirmando que a atividade “foi mais bem-sucedida do que se reconhecia”.
O relatório, que exigiu seis meses de trabalho, acusa igualmente o governo do presidente George W. Bush de ter deliberadamente ignorado as críticas. Os dirigentes americanos “regularmente descartaram em suas declarações públicas as advertências, as probabilidades e as expressões de incerteza contidas nas avaliações da inteligência”.
“Os programas de armas de destruição em massa do Iraque representavam uma ameaça a longo prazo que não podia ser ignorada. No entanto, não significavam uma ameaça imediata aos Estados Unidos, à região ou à segurança mundial”, acrescenta o relatório.
Opinião pública
A imprensa americana também divulgou manchetes sobre o assunto. Segundo a primeira página do Washington Post, “o arsenal iraquiano só existia no papel”. São publicadas também, em duas páginas, longas entrevistas com cientistas iraquianos. Depreende-se, segundo o Post, “que, além de suas ambições, o Iraque não dispunha de recursos necessários para produzir um arsenal proibido da mesma envergadura do que antes da guerra do Golfo em 1991”.
O governo Bush há vários meses parou com as denúncias sobre as armas proibidas iraquianas, preferindo, a partir daí, apresentar outras justificativas para a guerra: a necessidade de derrubar um regime tirânico e as perspectivas de democratização do Iraque e do Oriente Médio.
O secretário de estado Colin Powell, que foi no dia 5 de fevereiro à ONU para demonstrar a urgência de agir contra o Iraque, teve novamente que se explicar. “Apresentei da maneira mais equilibrada que pude as opiniões da comunidade de informação americana (…) reconhecendo certas incógnitas”, afirmou quarta-feira à noite ao canal ABC. A recusa do governo iraquiano de dar provas convincentes do que possuía não deixou outra escolha para os americanos, senão verificar por eles mesmos, assinalou. “Um dos problemas era que não sabíamos exatamente a quantidade que estava lá. É por isso que demos a Saddam Hussein uma chance de nos dizer, de declarar honestamente o que fazia. E ele não o fez”, afirmou Powell.
Fonte: Diário Vermelho com informações de agências internacionais