A manipulação feita pela grande mídia sobre a Greve dos servidores públicos federais chegou ao cúmulo nas duas últimas semanas. A capa da revista IstoÉ que circula desde o dia 24 é emblemática: “Quem são os grevistas que desafiam o Brasil”.
O texto menciona o “oportunismo” do movimento e cita como exemplos os funcionários das agências reguladoras, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, além dos auditores fiscais: “A greve atingiu serviços fundamentais e estratégicos, como a aduana, a vigilância sanitária e a segurança de fronteiras. O prejuízo até agora ultrapassa R$ 1 bilhão, mas os danos sociais são incalculáveis”. Os citados danos sociais são vagos e não apontam nenhum caso concreto.
Fica claro que as Greves às quais a revista dá atenção são as que atingem interesses financeiros, pela falta de inspeção de mercadorias e de entrada e saída de produtos através das fronteiras. Na há uma só palavra sobre a situação precária das Universidades Públicas, a falta de funcionários na área da saúde ou as capengas políticas públicas para os indígenas, que têm suas terras ameaçadas pela gula das grandes mineradoras. Os servidores desses três setores estavam em Greve quando a revista começou a circular.
A revista diz que uma das “estratégias” para “enfraquecer os grevistas é levantar as fragilidades de cada categoria, para uma negociação individual posterior”. E há um trecho que lembra a ditadura militar: “Na busca por informações, o Palácio do Planalto infiltrou agentes da ABIN, da P2 (Polícia Militar) e do Exército nas assembleias e acampamentos. Também determinou o monitoramento das principais lideranças. ´Brasília virou uma praça de guerra de arapongagem`, revela um agente”. A grande mídia, que tanto preza sua total liberdade de expressão, não esboçou a menor crítica em relação a esses meios usados pelo governo.
Os chamados “líderes da Greve” têm fotos, salários e vida pessoal expostas, e informações como frequentarem academias de ginástica são usadas como prova de que são “grevistas de sangue azul”.
Voz do oficialismo
O jornalista Perseu Abramo já desvendava, em seu texto “Significado político da manipulação na grande imprensa”, que uma dessas formas de manipulação é o Oficialismo: expressão aqui utilizada para indicar a fonte “oficial” ou “mais oficial” de qualquer segmento da sociedade, e não apenas as autoridades do Estado ou do Governo. No lugar dos fatos uma versão, sim, mas, de preferência, a versão oficial. A melhor versão oficial é a da autoridade, e a melhor autoridade, a do próprio órgão de imprensa. À sua falta, a versão oficial da autoridade cujo pensamento é o que mais corresponda à do órgão de imprensa, quando se trata de apresentar uma realidade de forma “positiva”, isto é, de maneira a que o leitor não apenas acredite nela mas a aceite e adote.
tabela revela distorções salariais
Um texto do DIAP intitulado “Governo gasta R$ 196 bi com bancos e apenas R$ 4,7 bi de investimento até junho” interpreta o momento atual de outro modo. Basta bater os olhos nesses números do título.
Ontem o jornal Correio Braziliense publicou texto sobre a Greve dos servidores públicos e nele há uma tabela que mostra: os salários do Judiciário não têm sequer comparação com os do Legislativo e ficam abaixo da maioria das chamadas carreiras de elite do Executivo. A tabela está na página do SINTRAJUSC. Portanto, o reles 5% em 2013, somando 15,8% até 2015 em três prestações, não altera em nada o quadro de distorções na administração pública federal. A nossa Greve é legítima. Quem deve explicações é o governo.