Caravanas de vários cantos do país encheram, na manhã desta quarta-feira [18], a Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Em uma das maiores marchas do funcionalismo público federal, desde o lançamento da campanha salarial de 2012, cerca de 20 mil pessoas, entre estudantes e trabalhadores do Judiciário Federal e do MPU, Educação, Saúde, INSS, Incra, IBGE, Fiocruz, ministérios e autarquias retornaram à capital federal para dizer à presidente Dilma Rousseff que não aceitarão a política de arrocho e de congelamento salarial. A maioria das intervenções feitas ao longo do percurso, entre a Catedral de Brasília, a Praça dos Três Poderes e o Bloco K do Ministério do Planejamento, reivindicou que o Palácio do Planalto negocie, efetivamente, com as várias categorias em greve e com outras que, como o Judiciário e o MPU, há seis anos sem reajuste, lutam por revisão salarial. Nem mesmo o forte aparato policial impediu que uma das maiores marchas do ano prosseguisse até o final.
“Os servidores estão nesta quarta marcha de 2012 para dizer à Dilma que não queremos essa política de arrocho para os trabalhadores e de isenção aos empresários. Os servidores do Judiciário e do MPU, que também lutam contra o congelamento salarial, saúdam as categorias em greve há mais de 30 dias. E em conjunto com os demais setores do funcionalismo, não vamos aceitar o sucateamento do serviço público e todo o entulho autoritário que está no Congresso Nacional. Vamos dar um basta nessa política de Dilma para o funcionalismo”, afirmou a coordenadora Jacqueline Albuquerque, durante sua intervenção, quando a marcha passava pelo Congresso Nacional.
Já em frente ao Bloco K do Ministério do Planejamento, o novo presidente da CUT Nacional, Vagner Freitas, eleito semana passada no Concut [Congresso Nacional da CUT], afirmou a importância da unidade de todas as categorias de trabalhadores, dialogando com os colegas dirigentes das outras centrais que também ajudaram na construção do ato. “O enfrentamento é comum. E não é mais possível que depois de 30 dias em que várias categorias estão em greve o governo não aceite negociar com as entidades sindicais. Receber as lideranças para uma confraria não nos interessa. Portanto, exigimos que o governo apresente propostas para todas as categorias em luta, senão a greve continua, continua e continua”, afirmou o presidente da Central, que informou que nesta terça-feira [17] esteve reunido com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e que nesta quinta [19] se reunirá com secretário geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. “A ministra Míriam [Planejamento] precisa nos receber e estabelecer um canal efetivo de negociação”, reforçou o presidente da Central.
Além da CUT, também falaram dirigentes das centrais CSP-Conlutas e da CTB. “A luta dos servidores federais é de toda a classe trabalhadora. E não podemos admitir a forma como o governo vem tratando as categorias do funcionalismo, onde vários setores estão em greve há mais de 30 dias”, afirmou Zé Maria Almeida, presidente da Conlutas. “O governo federal tem dinheiro pra tudo, menos para conceder reajuste aos servidores. Tem dinheiro inclusive para salvar os banqueiros”, ressaltou Wagner Gomes, presidente da CTB.
Ao final das falas dos presidentes das três centrais, ficou definido que o dia 2 de agosto será um Dia Nacional de Lutas de toda a classe trabalhadora, em solidariedade aos servidores públicos federais. Neste dia, as três centrais e as entidades nacionais deverão orientar que os sindicatos de base promovam manifestações em todo o país, cujo mote deve ser a reivindicação para que o governo negocie a pauta dos servidores federais. Estão em greve, em vários estados, professores e técnicos administrativos das universidades e Instituições Federais de Ensino, IBGE, agências reguladoras, Saúde, Incra, MDA [Ministério do Desenvolvimento Agrário] e vários outros órgãos do Executivo Federal.
Judiciário e MPU na luta com o funcionalismo
Uma das últimas lideranças a falar no ato em frente à sede do MPOG, o coordenador geral da Fenajufe Zé Oliveira reafirmou a atuação dos servidores do Judiciário Federal e do MPU com os demais setores do funcionalismo público federal. Para ele, “a unidade dos trabalhadores é a resposta à postura intransigente do governo federal, que não senta para negociar com as diversas entidades em luta”. Na avaliação de Zé, a marcha de hoje marcou mais um momento importante da organização unificada dos trabalhadores do serviço público, que “respondem à intransigência do governo com luta e unidade nas ruas”.
O dirigente da Federação também informou as últimas manifestações promovidas pela categoria, com destaque para a greve de 48 horas dias 4 e 5 de julho, quando, em vários estados do país, os servidores dificultaram o registro dos candidatos às eleições municipais. “Se o governo não negociar a nossa revisão salarial, os servidores do Judiciário Federal e do MPU, há seis anos sem reajuste, deverão novamente deflagrar um movimento de greve em nível nacional”, avisou Zé Oliveira.
Polícia reprime manifestantes
A comprovação de que a marcha desta quarta-feira dos servidores federais preocupou o governo foi a quantidade de policiais militares deslocados para acompanhar os manifestantes durante todo o percurso. Diferentemente das outras caminhadas promovidas pelo Fórum Nacional de Entidades dos SPFs, a de hoje contou com um número infinitamente maior de efetivo da PM, que logo em frente ao Palácio do Planalto tentou impedir a subida dos cerca de 20 mil servidores em direção à sede do Ministério do Planejamento, do lado norte da Esplanada. Depois de muita negociação dos organizadores do ato com representantes da corporação, a marcha finalmente retomou o seu percurso.
Antes mesmo de os manifestantes chegarem ao MPOG, uma barreira de policiais foi formada, na altura dos Ministérios do Exército e da Marinha. “Eu não quero acreditar que essa barreira seja para impedir o nosso protesto. Não há necessidade de todo esse aparato policial. Aqui não tem bandido, aqui tem trabalhador que luta contra essa política de arrocho do governo”, disse, do carro de som, o servidor do IBGE e umas das lideranças do movimento, Paulo Barela.
Pouco antes do encerramento do ato, já na porta do Bloco K do Ministério do Planejamento, quando estudantes e servidores foram dar o “abraço” simbólico ao órgão, policiais militares entraram em confronto com os manifestantes. Para conter a mobilização, o efetivo de policiais que estava na porta do MPOG disparou spray de pimenta e gás lacrimogêneo em direção aos estudantes e servidores. “Eu estava chegando próximo à porta do Planejamento, onde iríamos dar o abraço simbólico, e de repente vejo uma quantidade de pessoas correndo para fugir do gás de pimenta, disparado pelos militares. Várias pessoas sentiram o efeito da ação, mas ainda assim conseguimos terminar a nossa manifestação, que cumpriu o seu papel de mais uma vez cobrar respostas da presidenta Dilma à nossa pauta de reivindicações”, explica o coordenador da Fenajufe Jean Loiola, que estava no local durante a ação da PM.
Vários sindicatos filiados à Federação participaram da Marcha Nacional dos SPFs, juntamente com os coordenadores Zé Oliveira, Jean Loiola, Pedro Aparecido, Cledo Vieira, Jaqueline Albuquerque, Paulo Falcão, Hebe-Del Kader e Gérner Matos.