RIO DE JANEIRO, 04/06/2011:
A unidade dos trabalhadores frente aos projetos do governo que têm como propósito retirar direitos foi o grande desafio apontado pelos palestrantes do painel de Conjuntura, na noite desta sexta-feira [03], primeiro dia da XVI Plenária Nacional da Fenajufe, no Rio de Janeiro. Mesmo fazendo leituras diferenciadas sob alguns aspectos da política internacional e nacional, os três palestrantes consideraram como urgente a reorganização das entidades sindicais, de todos os setores da classe trabalhadora, e apontaram que essa é a única saída para enfrentar as propostas em curso que atendem somente aos interesses do imperialismo e das classes dominantes nacionais, em detrimento dos trabalhadores.
O primeiro palestrante da noite, o servidor aposentado do TRT do Rio Grande do Sul José Vieira Loguércio, doutor em Ciência Política e dirigente estadual do PCdoB-RS, fez um histórico sobre a evolução do sistema capitalista e as formas que ele têm se utilizado para atacar, ainda mais, os direitos dos trabalhadores. “Tem que se compreender que a base econômica do neoliberalismo é o capital do produtor de juros. Isto é a supressão da soberania das nações”, explicou Heitor. Segundo ele, essas nações não vão sair da crise até quando predominar a hegemonia do capital produtor de capital de juros. “O problema do século XXI é a submissão da soberania da nação. Para a soberania, o estado tem que ser impor e ser protagonista”, alertou.
De acordo com Vieira, na América do Sul há uma dualidade estatal, ou seja, o Estado servindo a dois senhores. “Tem que ter mais mobilização para que esse país seja justo e humanitário”, finalizou.
Na avaliação do trabalhador dos Correios e representante da CSP/Conlutas, Heitor Fernandes, a classe trabalhadora em todo o mundo sofre com os efeitos da crise do capitalismo, que ainda não acabou. Segundo ele, para preservar a economia e salvar as empresas e os bancos, os governos, incluindo o brasileiro, adotam uma série de medidas que prejudicam diretamente os trabalhadores, promovendo o desemprego e aumento dos preços e dos juros. “Alguns dizem que há uma estabilidade econômica hoje no Brasil. Mas por trás disso, há uma grande desigualdade de classes. Várias medidas adotadas recaíram sobre os trabalhadores”, disse Heitor.
O dirigente sindical, que também atua na Fentect [Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios], afirmou que somente a unidade da classe pode derrotar os ataques da crise, que ainda não acabou. “Fazemos um chamado a todas as centrais a atuarem para garantir essa unidade”, disse Heitor, para quem a XVI Plenária da Fenajufe deve denunciar algumas políticas do atual governo, como a reforma do Código Florestal, que segundo ele autoriza o desmatamento em favor do agronegócio.
Vera Miranda, assessora Sisejufe-RJ e militante da corrente sindical CSD [CUT Socialista e Democrática], apontou como um grande desafio para os trabalhadores a derrota de algumas propostas consideradas prioritárias do atual governo, que rompem com avanços garantidos pelo governo Lula. Entre eles, ela destacou o PLP 549/09, que congela o salário do funcionalismo por dez anos; o corte de 50 bilhões no Orçamento; e o PL 548/09, que permite a demissão do servidor por insuficiência de desempenho. “O que precisa ser considerado é a forma de gestão do serviço público pensado pelo atual governo, que é puramente tecnicista e meritocrática. E essa forma será muito mais dura para os servidores públicos. Isso exige de nossas entidades sindicais a capacidade de reorganizar a classe trabalhadora”, disse Vera, a última palestrante do dia.
Para a assessora do Sisejufe-RJ, os servidores do Judiciário Federal e do MPU, precisam construir, junto com as demais categorias do funcionalismo, o seu próprio projeto para disputar e derrotar os interesses do governo. “Se não apropriarmos do debate com profundidade, o governo nos apresentará, por exemplo, uma proposta de diretrizes de plano de carreira de forma unilateral. Ou vamos pra cima ou nem seremos chamados a dar a nossa opinião”, finalizou Vera.
Após as falas dos palestrantes, foi aberto o debate no plenário. A maioria das dez intervenções reforçou a unidade de todos os trabalhadores para lutar contra os projetos que retirem direitos e conquistar o reajuste salarial.
Jongo da Serrinha fecha a primeira noite da XVI Plenária
Após o jantar, a primeira noite da Plenária (sexta-feira, 03), foi encerrada com a apresentação cultural. Os presentes acompanharam a performance de uma das manifestações mais consagradas e tradicionais do estado do Rio: o Grupo Jongo da Serrinha – expoente de resistência das raízes africanas da cultura brasileira – que brilhou ao lado do grupo musical Cultura Popular Razões Africanas.
Com 40 anos de história, o grupo de Madureira [bairro da Zona Norte Carioca] foi fundado por Mestre Darcy e sua mãe, Vovó Maria Joana Rezadeira que, preocupados com a extinção do jongo na cidade, transformaram a antiga dança praticada nos quintais da Serrinha num espetáculo. Herança cultural trazida pelos negros bantos que vieram da região do Congo-Angola, da África, para as fazendas de café do Vale do Paraíba no século 19, o jongo ficou preservado na região.
Segundo os organizadores do grupo, em sua trajetória de resistência, o Jongo da Serrinha se transformou em uma das mais genuínas referências da cultura carioca e vem se apresentando em diversas cidades do Brasil e exterior, divulgando e preservando o ritmo com espetáculos de alta qualidade.
FENAJUFE: do Rio, Tatiana Lima e Leonor Costa