Por Marcela Cornelli
Ato em Brasília marcará hojé o Dia Mundial de Luta contra a Aids. Estudantes do ensino básico e fundamental vão estender no gramado da Esplanada dos Ministérios em Brasília uma grande “colcha de solidariedade”, símbolo da luta contra o preconceito e discriminação dos portadores do HIV, vírus transmissor da aids. O dia foi escolhido pela Organização Mundial da Saúde e é comemorado em todos os países comprometidos com a luta. A campanha tem o objetivo de conscientizar os governantes a atingir a meta de dar tratamento gratuito a três milhões de portadores do vírus até o final de 2005.
Para o Ministro da Saúde, Humberto Costa, essa é uma forma simbólica de combater o preconceito contra os portadores do vírus HIV e de lembrar as vítimas que a doença já fez no país. Os estudantes vão pintar espaços vazios da colcha ao som do Hino da Solidariedade, composto por Wagner Tiso e Elisa Lucinda a pedido da Organização Não-Governamental Ação e Cidadania, do Rio de Janeiro, para reforçar a urgência da luta contra a Aids nos países africanos. A gravação do hino reuniu vozes dos cantores mais populares dos cinco países de língua portuguesa: Angola, Moçambique, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde.
A colcha foi confeccionada por estudantes dos ensinos fundamental e médio que participaram de discussões sobre a importância da solidariedade às vítimas da doença. Cinqüenta e quatro escolas de todos os estados brasileiros e o Distrito Federal, além de organizações não-governamentais (ONGs) receberam um kit do Programa Nacional de DST/Aids com uma parte da colcha. Foram produzidos seis mil metros quadrados de mensagens de solidariedade às 135 mil pessoas que têm Aids no Brasil – há ao todo 600 mil portadores do HIV.
Para encerrar a solenidade, a Escola de Samba Grande Rio vai apresentar ao público o samba-enredo do Carnaval 2004, “Pecado é Não Usar”. O samba defende o uso da camisinha como a forma mais eficaz de prevenção à Aids e será cantado pelo diretor da escola, o carnavalesco Joãozinho Trinta, mais cinco ritmistas, mestre-sala e porta-bandeira.
A AIDS no Brasil
O primeiro caso brasileiro de Aids foi notificado em 1983. Nesse mesmo ano, começou a mobilização nacional para o enfrentamento da epidemia, com a união de forças entre o governo e a sociedade civil. A primeira ação foi em São Paulo, com a criação da Coordenação Estadual de DST/Aids pelo governo estadual e a mobilização de ativistas de pessoas vivendo com o HIV.
Além de relembrar essa trajetória, as atividades do Dia Mundial de luta contra a AIDS também servirão como reflexão. Para o coordenador do Programa DTS/Aids, do Ministério da Saúde, Alexandre Granjeiro, apesar de ser motivo para reconhecer os avanços do Brasil nessa área, é necessário pensar nos desafios do futuro, já que a epidemia permanece como um importante problema de saúde pública.
Os 20 anos de resposta brasileira à luta contra a Aids fizeram do país uma referência mundial. De acordo com os dados do Programa DST/Aids, os óbitos foram reduzidos em mais de 50%; a epidemia está estabilizada, com tendência a queda desde 2000; todos os doentes têm acesso universal e gratuito ao tratamento e aos exames; e a estimativa do Banco Mundial de que, no ano 2000, o Brasil teria 1,2 milhão de infectados, não se confirmou. O país virou o século com uma estimativa de 600 mil pessoas com o HIV, ou 0,5% da população. Isso mostra o sucesso dos programas preventivos e educativos, que levam o país a um dos mais altos índices de uso do preservativo no mundo: 58% nas primeiras relações sexuais.
O Dia Mundial de Luta contra a Aids foi criado em 1988, durante Encontro Mundial de Ministros de Saúde, em Londres, com a participação de 140 países. Objetivo da data é mobilizar governos, sociedade civil, portadores do HIV e outros segmentos da população para uma reflexão sobre a epidemia. A data simboliza, também, a solidariedade entre as pessoas e a luta contra o estigma e a discriminação.
No Brasil, foram notificados até setembro deste ano 277.153 casos – um aumento de 19.373 casos em relação ao total notificado até dezembro de 2002. Do total, 70% dos casos referem-se ao sexo masculino e desde 1998 a razão entre os sexos está mantida em 1,8 casos em homens para cada caso em mulher.
Fonte: Agência Brasil