Por Luciano Martins Costa, no OI
Três meses depois da eclosão da crise financeira internacional, o Estado de S.Paulo publicou, no domingo (11/1), o primeiro texto que vai exatamente ao ponto central do tema. Em duas páginas, o artigo traduzido do New York Times traz como título, dividido em dois: “O fim do mundo financeiro que conhecemos… e como consertar um mundo quebrado“.
A leitura dessa reportagem exige espírito forte. O texto relata como o sistema econômico mundial foi incapaz de evitar o crescimento e a implosão da bolha de fraudes e especulações que conduziram as economias do todo o mundo à beira da catástrofe.
O trabalho, de autoria dos jornalistas Michael Lewis e David Einhorn, revela que um executivo financeiro de Boston, Harry Markopolos, passou nove anos tentando alertar as autoridades da Securities and Exchange Comission, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, sobre os riscos da pirâmide financeira construída por Bernard Madoff, ex-presidente da bolsa Nasdaq.
O que se conclui do relato é que as autoridades encarregadas de fiscalizar o mercado e proteger os investidores mantiveram os olhos fechados ou simplesmente passaram a defender os predadores.
Nenhuma atenção
As revelações são assustadoras, no sentido em que fazem a radiografia de um sistema absolutamente caótico, que em algum momento perdeu o sentido e passou a atuar contra os interesses de longo prazo do próprio mercado.
Os altos proventos pagos aos executivos dos bancos e corretoras passaram a ser o objetivo perseguido por todo o sistema, em detrimento da economia real. O que se deve perguntar, neste posto de observação, é: qual foi a contribuição da imprensa para que o processo de degeneração do sistema chegasse ao ponto de ruptura?
Não é preciso um grande esforço de pesquisa para constatar que a imprensa passou a última década registrando recordes e recordes de lucros e incensando os deuses do mercado, fugindo do debate sobre a necessidade de controles externos sobre os fluxos de capital.
Visto de hoje, o sistema parece tão frágil que surpreende o fato de ninguém ter dado importância aos estudos de Harry Markopolos. Seu relatório de 2005, citado na reportagem do New York Times reproduzida pelo Estadão, revela que o sistema foi tomado pelos especuladores.
Aquilo que a imprensa chama de mercado financeiro é uma imensa fraude.