O engenheiro José Bautista Vidal, um dos criadores do programa público que desenvolveu o uso do álcool combustível no Brasil, nos anos 70, o Proálcool, acredita que as negociações do país com os Estados Unidos em torno do produto podem ter conseqüências “péssimas” para os brasileiros.
Vidal avalia que o interesse de países como Alemanha, Japão, China, Rússia e Índia deveria ser aproveitado pelo Brasil para “comandar” o mercado internacional de etanol, pois o país tem as melhores condições em todo o mundo para a produção do combustível. “Em vez de o Brasil tomar a iniciativa e criar instrumentos, empresas, criar a Companhia Brasileira de Bioenergia, os norte-americanos aproveitam e estão criando uma estrutura de poder a partir do álcool brasileiro”, disse ele em entrevista à TV NBR.
O engenheiro explica que a possível parceria será muito prejudicial ao Brasil, pois, apesar de sermos “donos do território”, os meios de produção e de distribuição vão acabar ficando em mãos dos Estados Unidos. Segundo Vidal, já existem três grandes empresas com sede nesse país que fazem a exportação do combustível produzido aqui.
Vidal diz ainda que, em termos de intercâmbio tecnológico, o Brasil “não tem nada a ganhar, porque a produção brasileira , feita a partir da cana-de-açúcar, tem resultados muito superiores aos da norte-americana, a partir do milho. A técnica de hidrólise ácida que eles utilizam é muito cara, e nós já a dominamos há 20 anos, então eu não sei qual será essa contribuição. O que eles estão fazendo é montarem empresas para dominar o mercado brasileiro e se tornarem os grandes exportadores mundiais”, diz.
Ele ressalta que o Brasil reúne totais condições para suprir a demanda mundial de álcool, pois tem clima, água, fronteiras agrícolas que dão condições para a produção do combustível. “O que falta são instrumentos de ação, organização, montar uma rede de distribuição mundial, precisamos da ‘Petrobras’ dos combustíveis renováveis”, explica.
Para tornar-se esse grande exportador mundial, o professor ressalta que a participação do governo é fundamental, pois é necessário organizar os pequenos produtores e dar a eles condições de competir com grandes empresas internacionais. “A energia renovável brasileira é a única solução para o colapso do petróleo, e o mundo está em guerra por causa disso”, lembra ele.
O professor conta que, na época da criação do Proálcool, já existia a avaliação de que chegaria o atual período de escassez progressiva do petróleo e ascensão dos biocombustíveis. “Eu estava nos Estados Unidos, conversei com os líderes das companhias de petróleo, e eles já anunciavam 30 anos atrás que o petróleo ia faltar. Qual é a única solução possível no mundo? É a solução do continente tropical. Quem é o continente tropical? O Brasil.”
Fonte: Agência Brasil (Marcos Agostinho)