Camboriú, Balneário Camboriú e Itajaí são cidades vizinhas e a não mais que 80 quilômetros de Florianópolis (SC). Só que nas estatísticas da Aids elas se distanciam cada vez mais da capital catarinense. Ano após ano, os três municípios se revezam no ranking nacional da taxa de incidência da doença, posto que já fora ocupado por Florianópolis uma década atrás.
Os três municípios têm cinco vezes mais casos de Aids proporcionalmente à sua população do que a média brasileira. No ano passado, Camboriú registrou 105,4 casos por 100 mil habitantes. De 1998 até 2002, a cidade conseguiu reduzir a taxa de incidência pela metade. No período seguinte até 2005, o índice dobrou. Ou seja, voltou-se à estaca zero.
Camboriú tem 365 portadores do HIV em tratamento. O Centro de Diagnóstico da cidade vem recebendo 5 novos casos por mês. Pode parecer pouco perto dos 33.142 registros em todo o País, mas é alto para seus 55 mil habitantes. Alguns fatores explicam os índices. A população vem crescendo nos últimos anos. É, ao mesmo tempo, uma cidade litorânea, portuária e dormitório (de sua vizinha, o Balneário Camboriú). “Por isso, possui um fluxo populacional atípico”, diz a secretária de Saúde e Saneamento, Mariana Golin Winckler.
Trabalhos de conscientização são difíceis de ter resultado, uma vez que a rotatividade de pessoas é elevada. Nos hospitais e centros de saúde, a maioria dos diagnósticos se refere à transmissão sexual – não é freqüente a transmissão vertical, de mãe para filho.
Um estudo da Secretaria Estadual de Saúde, divulgado em julho, mostrou que os catarinenses têm para lá de razoáveis informações quanto às formas de contágio do HIV, mas não fazem uso delas. Sete em dez entrevistados não usaram preservativo na primeira relação sexual e mais da metade dispensa a camisinha porque é casada ou confia no parceiro. Só 41% deles já realizaram o teste de Aids, mas não se trata de um hábito. Metade destes só realizou o teste uma única vez.
“Há ainda tabu, medo e preconceito”, lembra Maria da Graça C. dos Anjos, chefe da divisão da Vigilância Epidemiológica do Estado. “O HIV é uma questão de comportamento das pessoas, de educação de cada um.”
A epidemia da Aids no Estado teve seu primeiro registro em 1984. Até 1995, 105 municípios tiveram notificações de Aids. Em 1995, Florianópolis tinha 98,3 casos por 100 mil habitantes. A capital de Santa Catarina reagiu desde então. Houve distribuição maciça de preservativos, conscientização da necessidade de se fazer exames freqüentes e programas para se evitar a transmissão vertical. Florianópolis zerou o contágio em recém-nascidos por meio de tratamentos no período pré-natal e fornecimento de leite às mães soropositivas.
Santa Catarina tem 6 cidades entre os 25 municípios brasileiros com maior incidência de Aids. Perde para o Rio Grande do Sul, com 9, e está à frente do Rio de Janeiro. O primeiro município paulista a figurar no ranking é Santos, com 58,8 casos por 100 mil habitantes.
Regiões portuárias, como no Vale do Itajaí, onde estão as três cidades com maior incidência de aids em Santa Catarina, lidam com outro problema que influencia negativamente o combate à doença. São os usuários de drogas injetáveis. Programas de redução de danos, como a oferta de seringas descartáveis, têm pouco ou nenhum efeito.
Epidemiologistas já estão de olho em outra cidade do Vale do Itajaí, Navegantes. Lá está sendo construído um novo porto, que formará o complexo portuário Itajaí-Açu. Estima-se que mais de 5 mil pessoas vão se mudar nos próximos anos para a região. No passado, esse tipo de migração representou também a explosão da Aids.
Fonte: Tribuna da Imprensa On-Line