O preconceito enfrentado pelas mulheres no mercado de trabalho se estende ao serviço público. Quanto mais alto é o cargo na hierarquia do governo federal, menor a probabilidade de ele ser ocupado por uma mulher. No acesso ao serviço público, os concurso garantem uma proximidade maior com os homens e elas ocupam 44,1% das vagas. Mas entre os cargos comissionados, que dependem de indicações, a situação é diferente. Nos mais baixos, de menor remuneração, elas ainda conseguem competir. Mas sofrem mais para chegar ao topo, confirma um estudo elaborado pela economista Tânia Fontenele, pesquisadora da Universidade de Brasília. Apesar de terem mais escolaridade, dos cargos com DAS (Direção e Assessoramento Superior) 6, o mais elevado — ocupados por secretários de estado com salário de R$ 7.575 —, apenas 19,3% estão nas mãos de mulheres. A presença deles também é esmagadora entre os servidores com DAS 5 — assessores especiais e secretários —, representam 79% do total.
Em média de cada 10 servidores lotados em um dos dois cargos mais bem remunerados abaixo dos ministros e do presidente da República, os DAS 5 e 6, apenas dois são ocupados por mulheres. Apesar de pequeno, o número já foi menor. “No governo passado apenas 13% dos DAS 5 e 6 eram ocupados por homens. A situação melhorou, mas ainda é ruim. Em geral homem chama homem para trabalhar. Se tivéssemos uma presidente mulher teríamos mais mulheres no governo”, analisa Tânia, autora do livro Mulheres no Topo de Carreira: Flexibilidade e Persistência, que será lançado hoje à noite em Brasília. Na sua opinião, essa discriminação tende a diminuir principalmente por causa da maior escolaridade das mulheres. Segundo a Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) os trabalhadores de sexo masculino estudaram, em média, sete anos e um mês. As mulheres, por sua vez, chegam a oito anos de estudo, 11 meses a mais.
Barreira invisível
A pirâmide que quantifica o volume de funcionárias por DAS exemplifica bem o que ocorre no mercado de trabalho brasileiro, segundo a ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Até o DAS 3, com remuneração máxima de R$ 1,5 mil, as mulheres conseguem penetrar com mais facilidade. A partir do DAS 4 aumenta o fosso entre os dois gêneros. “As mulheres vão até certo ponto e daí para frente parece que há uma barreira invisível que ela não consegue passar. E isso ocorre por discriminação. É a persistência de um fenômeno em que se crê que as mulheres não são capazes. Mas essa cultura vem mudando aos poucos com a pressão das que conseguem se colocar”, afirma. Criada no início do primeiro mandato do governo, a Secretaria lançou o programa Pró-Eqüidade de Gênero que concede um selo às empresas públicas que tentam combater a discriminação entre os sexos.
Dentro do esforço do governo de aumentar a participação das mulheres, a servidora Magda de Myron, funcionária do governo federal há 26 anos, alcançou há apenas um ano o mais alto degrau de sua carreira. Foi convidada para ser subsecretária de Planejamento, Orçamento e Administração do Ministério das Cidades. A remuneração saltou do DAS 4 para o DAS 5 e as responsabilidades aumentaram. Atualmente, aos 46 anos, chefia quase 500 funcionários do ministério. “Para os homens é mais fácil subir na carreira, acho que levam menos tempo para isso. Mas você acaba com o preconceito mostrando que é competente. Hoje a convivência é bem melhor, quando eu comecei ia para as reuniões e só tinha homens”, afirma.
Mas para isso, Magda teve que fazer renúncias e abriu mão da maternidade para estudar e trabalhar em tempo integral. Em seu currículo há duas pós-graduações — uma em curso — e mais de 12 horas diárias de trabalho. “Ser casada e ter filhos restringe a dedicação das mulheres ao trabalho. Muitas perdem as oportunidades por não se dedicar tanto ao trabalho. É muito difícil assumir os dois papéis com competência. Mas eu não me arrependo de não ter tido filhos”, afirma Magda, que está namorando.
Fonte: Correio Web (Mariana Flores)