Dia da Consciência Negra tem manifestações pelo País

O Dia da Consciência Negra foi marcado por passeatas, marchas, atividades culturais e debates em todo o país. Em São Paulo, a Parada Negra reuniu mais de 10 mil pessoas desde a Avenida Paulista até a Assembléia Legislativa. No Rio, houve concentração nas proximidades do monumento a Zumbi dos Palmares, na Avenida Presidente Vargas. Em ambas capitais, houve atos ecumênicos com representantes das religiões afro-brasileiras (candomblé e umbanda), católica e evangélica. No Recife e em Brasília, também foram celebrados atos em referência a história de Zumbi dos Palmares, um dos principais líderes contra a escravidão do país.
Em São Paulo, dois eventos se juntaram para comemorar a data e manifestar repúdio à discriminação racial. A Parada Negra e Marcha pela Consciência Negra. Em manifesto assinado, os organizadores defendiam a votação imediata do Estatuto da Igualdade Racial e do projeto de lei que prevê cotas nas universidades, além do fim da violência policial contra jovens negros e pela melhoria da escola pública. O ato foi organizado por cerca de 30 entidades. Entre elas, Zumbi Livre, União de Negros pela Igualdade, Agentes de Pastoral Negros do Brasil, Comissão de Negros e Assuntos Anti-discriminatórios da OAB-SP, Coletivo de Estudantes Negros de São Paulo e Marcha Mundial de Mulheres.
“O único jeito de a gente romper com essa situação de discrimnação, desigualdade e racimos é estar organizado. E nós temos essa unidade política. Hoje estão aqui, vários partidos, várias entidades e representantes de várias religiões. Nós somos capazes de conviver sem racismo, sem machismo, sem homofobia, e sem intolerância religiosa. Apesar disso o Brasil é racista. O racismo sempre foi cordial, camuflado, mas o país é racista”, disse Flávio Jorge, integrante da ONG Soweto e filiado à Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen).
Para Dojival Vieira, presidente da ABC Sem Racismo, um dos líderes da Parada Negra, todo mundo reconhece que o Brasil é desigual socialmente. Mas, segundo ele, a maioria esquece que “essa desigualdade se estrutura na desigualdade racial, fruto de muitos anos de racismo”. Segundo um estudo do Departamento Intersindical de Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), publicado na semana passada, os negros correspondem a 55,3% dos desempregados em seis regiões metropolitanas brasileiras, apesar de representarem apenas 46,6% da população economicamente ativa (PEA) desses locais.
No Rio de Janeiro, o coordenador executivo da Subsecretaria Adjunta de Políticas Públicas Contra a Discriminação Racial do estado, Nayt Junior, esteve presente no evento e disse que o Dia Nacional da Consciência Negra é importante para os movimentos que lutam por políticas públicas de combate ao racismo.
Durante o evento, mais de 100 estudantes de cursos pré-vestibulares comunitários fizeram manifestação contra a decisão do prefeito da cidade, César Maia, de proibir o uso noturno das instalações das escolas públicas municipais para os cursos pré-vestibulares de estudantes de comunidades populares. Os estudantes carregavam faixas reivindicando que o prefeito volte atrás na decisão.
Comemorado há 35 anos, o Dia Nacional da Consciência Negra lembra o assassinato de Zumbi, morto em 1695 e considerado o mais importante líder do quilombo de Palmares (AL), maior e mais importante comunidade de escravos, com população estimada de mais de 30 mil pessoas.
Em 1971, o 20 de novembro foi celebrado pela primeira vez no Brasil. Segundo a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), a idéia se espalhou por outros movimentos sociais de luta contra a discriminação racial e, no final dos anos 1970, já aparecia como proposta nacional do Movimento Negro Unificado.

Manifestação em São Paulo

São Paulo, uma das cidades com mais negros fora da África viveu a primeira edição da Parada Negra nesta segunda-feira (20/11). Em pleno Dia da Consciência Negra (feriado na cidade), o evento levou pelo menos 12 mil pessoas à Avenida Paulista, segundo a Polícia Militar. O Movimento Brasil Afirmativo calcula 20 mil participantes – o dobro do que os organizadores esperavam.
Sob o Masp, a concentração da parada A maior parte do público foi formada por estudantes e ativistas de mais de 30 entidades, como a Unegro (União de Negros pela Igualdade). Nem mesmo a ameaça de chuva prejudicou a concentração da Parada Negra, no vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo). A mídia também deu destaque à mobilização.
De saída, os manifestantes defenderam a transformação da data em feriado nacional. ‘Têm cidades que comemoram o feriado – outras, não. Isso também é uma forma de discriminação’, acusou o presidente da CUT-SP, Edilson de Paula Oliveira. Outras lideranças defenderam políticas afirmativas, como cotas de acesso à educação e ao trabalho.
Um abaixo-assinado cobrou a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial

Integração

A primeira atividade formal coube a Eduardo de Oliveira, que cantou o Hino à Negritude, de sua própria autoria. Eduardo é professor e criou o CNAB (Congresso Nacional Afro-Brasileiro). Uma cerimônia multi-religiosa ocorreu em seguida, no vão livre do Masp.
Dois carros de som foram deslocados para a realização do ato, que chamou atenção ao pluralismo e à tradição ecumênica do Brasil. Líderes de religiões africanas, judaicas e cristãs compareceram.
“Sou branco e católico, mas tenho origem negra, colegas e amigos negros. Sei reconhecer claramente o valor dessa integração”, disse o bancário Luiz Tofolli, que foi à parada com a mulher e os três filhos.
Houve, ainda, diversas manifestações culturais, como rodas de capoeira e apresentações de samba, hip hop, maracatu e maculelê. Poemas de temática negra foram lidos.

Participantes da Parada Negra em marcha

A marcha

Ponto culminante da parada, a 3ª Marcha da Consciência Negra começou às 15h15. O público caminhou pouco mais de três quilômetros, em direção à Assembléia Legislativa paulista, no Ibirapuera, onde houve ato político.
A parada e marcha tiveram a participação de Agentes de Pastoral Negros do Brasil, Comissão de Negros e Assuntos Antidiscriminatórios da OAB-SP, Coletivo de Estudantes Negros de São Paulo e Marcha Mundial de Mulheres. Foi ‘o maior evento anti-racista da história de São Paulo’, como frisou Dojival Vieira, um dos integrantes da comissão organizadora e atual presidente da ONG (Organização Não-Governamental) ABC Sem Racismo.
Outro ato na capital paulista, realizado na Praça da República, contou com 600 participantes. O Dia da Consciência Negra é uma homenagem ao líder do mais célebre quilombo de resistência à escravidão, Zumbi dos Palmares, assassinado em 20 de novembro de 1695. A data é comemorada desde 1971 no Brasil – e se tornou feriado em São Paulo em 2003.

Fonte: Vermelho (André Cintra, com agências)

Trinta e cinco anos do Dia Nacional da Consciência Negra

No final da década de 70, retomando uma longa e rica trajetória de lutas, o movimento negro sai às ruas para denunciar o racismo e lutar pela melhoria da condição de vida do povo negro brasileiro. Um dos marcos dessa retomada de luta é o Manifesto a Zumbi dos Palmares, elaborado em 1971, por iniciativa do Grupo Palmares de Porto Alegre. Com o surgimento do Movimento Negro Unificado, em 1978, se dá a criação do Dia Nacional da Consciência Negra, com manifestações em todo o país.

Fonte: Sintrajufe/RS