Israel ignora ONU e diz que vai manter construção do “muro do Apartheid”

Por Marcela Cornelli

Israel disse ontem (22/10) que continuará com a construção de uma cerca que invade o território palestino — conhecida como “muro do Apartheid” em alusão ao falido regime racista da África do Sul — apesar de uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) exigindo a derrubada da barreira.

“A cerca continuará a ser construída e continuaremos a cuidar da segurança do povo israelense”, afirmou o vice-primeiro-ministro do país, Ehud Olmert, à Rádio Israel, ignorando a autoridade das Nações Unidas.

Na noite de terça-feira, a Assembléia Geral da ONU aprovou com uma folgada margem de votos uma resolução chamando de “contrária à lei internacional” a barreira, formada por muros e cercas, e ordenando Israel que “interrompesse e revertesse” a construção dela nas terras palestinas.

Segundo Olmert, o governo israelense desobedeceria ao que considerou ser a “diretriz de uma maioria automática, hostil, egoísta e mal orientada que age contra Israel”.

A “maioria” a que ele se referia são simplesmente mais de 95% das nações que integram a ONU. Apenas quatro países (EUA, Israel e os insignificantes Micronésia e Ilhas Marshall) votaram contra a resolução. Estes mesmos quatro países foram contra outra resolução da ONU, aprovada em 20 de setembro deste ano, que pedia para Israel parar de ameaçar o presidente palestino, Iasser Arafat.

As Ilhas Marshall e a Micronésia são dois arquipélagos situados na Oceania e têm suas economias totalmente atreladas à dos Estados Unidos. Tal fato explica por que, na maioria das votações da Assembléia Geral da ONU, da qual fazem parte 192 países, os dois Estados se mantêm sempre aliados às posições americanas. Os EUA fornecem ajuda financeira às Ilhas Marshall, o que lhes garante, em troca, a manutenção por 15 anos de suas bases militares no país. O mesmo caso de dependência acontece com a Micronésia, país que depende dos EUA em combustíveis, infra-estrutura e segurança.

Veto no CS

O Estado judaico diz que a cerca visa manter os terroristas suicidas longe de seu território. Os palestinos a chamam de “muro do Apartheid”, a invadir grande parte das terras onde desejam fundar um Estado. Os EUA, maiores aliados de Israel, fingem condenar o projeto mas se colocam ao lado de Israel sempre que o tema entra em debate na ONU.

O projeto de resolução condenando a cerca foi levado à Assembléia Geral da ONU depois de os EUA terem vetado a aprovação de um texto semelhante no Conselho de Segurança.

O texto diz que os Estados membros da ONU estão particularmente preocupados com o traçado do “muro de proteção” escolhido por Israel, que pode prejudicar futuras negociações e tornar fisicamente impossível uma solução entre israelenses e palestinos, além de causar futuro dano humanitário aos palestinos.

O documento pede a Israel e aos palestinos o cumprimento dos compromissos previstos no plano de paz promovido por Rússia, União Européia, ONU e, por incrível que pareça, Estados Unido, que pretende levar à criação de um Estado palestino em 2005.

Esforços

A resolução também solicita à Autoridade Nacional Palestina que “faça esforços visíveis no terreno para prender, desbaratar e deter grupos e indivíduos que planejam e realizam ataques” contra Israel.

O documento pede ainda que Israel não adote qualquer ação que “mine a confiança, incluindo deportações, ataques a civis e execuções extrajudiciais”.

O observador palestino na ONU, Nasser al Kidwa, agradeceu os membros da União Européia pela apresentação da resolução.

A Autoridade Nacional Palestina também expressou sua satisfação pela resolução da Assembléia Geral da ONU. “Damos as boas-vindas à resolução da ONU, que é uma decisão de transcendência política, legal e moral e rejeita as soluções impostas pela ocupação israelense”, manifestou o negociador-chefe palestino, Saeb Erekat.

O primeiro-ministro palestino Ahmed Korei, que está no Cairo em sua primeira visita ao exterior desde que assumiu a direção do gabinete de crise palestino, também recebeu com otimismo a notícia.

Um segundo projeto, que ainda não foi votado, pede que o Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia responda a pergunta: “Israel tem a obrigação legal de suspender a construção do muro (…) e de desmantelar as partes já edificadas?”.

Críticas

A construção do “muro de proteção” foi criticada por quase todos os 20 oradores de segunda-feira (20), primeiro dia da sessão extraordinária da Assembléia Geral da ONU, quando destacaram sua consequências humanas e econômicas sobre a população palestina.

Vários diplomatas também afirmaram que esta construção — que o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, ordenou acelerar — prejudica qualquer tentativa de restabelecer um processo de paz.

O muro deve ser edificado sobre 430 km e envolve 80% dos cerca de 231 mil colonos judeus que vivem na Cisjordânia.

Aproximadamente 140 quilômetros de muro já foram construídos no norte da Cisjordânia, perto da Linha Verde — limite imposto por Israel às nações árabes após a Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Fonte: Matéria do site Portal Vermelho
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